segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Da nossa casa a Santiago de Compostela. Etapa I e II

Chuva, chuva e muita chuva, mas já estamos70 Km mais perto: Castelo Branco-Louriçal do Campo e Louriçal do Campo-Alcongosta-Fundão-Peroviseu




INSTANTÂNEOS – I



Santuário de Fátima, outubro de 2012. Concluída a ultima de 4 etapas desde Castelo Branco, visita à Igreja da Santíssima Trindade, acabadinha de ser agraciada com o título de Basílica menor. O grupo tinha-se subdividido em pequenos grupos, discretamente espalhados na grandiosa nave de 125 metros de diâmetro do monumento. Lá mesmo à frente, nas primeiras filas, Carlos Matos, Inserme e Zé Manel teciam considerações sobre a qualidade e quantidade da iconografia do templo. Em geral, todas as ditas considerações eram pouco ou nada fundamentadas, diga-se, em abono da verdade: Inserme, na qualidade de antigo seminarista, tentava encontrar significado na miríade de imagens no mosaico que cobre todo o fundo do presbitério; Carlos Matos, do alto da sua cátedra de artista plástico opinava sobre as complexas técnicas utilizadas na sua execução; Zé Manel, veterano enfermeiro, olhava fixamente para o enorme crucifixo suspenso sobre o altar. Calou os outros dois quando soltou:
- Já reparásteis bem no joelho direito do Cristo? Aquilo está cheio de líquido.

Ao que vamos



O nosso propósito último é viajar. Caminhando.
Este suporte servirá para relatar essas viagens. Com palavras, com fotografias e, novidade distintiva, com esboços (sketches, para quem não está à vontade no português).
Viajar e relato de viagens leva a literatura de viagens. Existiram várias personagens que ficaram para a história como grande relatores de grandes viagens. O primeiro que me vem à memória foi o veneziano Marco Polo, que teve a inovadora ideia (algures no sec.xiii) de ir registando as suas impressões da viagem que fez com o pai e tio ao longo da rota da seda e, com isso, deixar-nos informações preciosas sobre a vida na Àsia medieval; (nota: nunca li, directamente, mas acredito nos estudiosos que garantem que o relato é extraordinário).
Outra referência na literatura viagem é o nosso Fernão Mendes Pinto, porque teve a sorte de ter sido feito prisioneiro e vendido a um grego que o passou a um judeu (com lucro, supõe-se), que teve de o libertar (sem lucro) para os amigos lusitanos que o resgataram em Ormuz, nos anos jovens de 1500, gastando os 21 anos seguintes a deambular pelas costas da Birmânia, Tailândia, China, Japão, resumindo depois essa fantástica aventura num relato com o apropriado nome de “Peregrinação”. (Nota: li, e gostei, apesar de, à semelhança de muitos outros e muito mais entendidos do que eu, também ter ficado com a sensação de que o amigo Fernão, nalgumas passagens, regar um bocadinho)
Todavia, o maior dos maiores no que a relatos de viagens diz respeito é, inquestionavelmente, o Luís. Vaz. De Camões. Ninguém no mundo inteiro, até agora, conseguiu relatar uma viagem como ele o fez. (Nota: não era preciso ostentá-lo mas, claro que li, não fomos todos obrigados a isso?)
Se calhar por influência desses grandes pioneiros, o padrão tradicional da maior parte da literatura de viagens contém sempre a combinação de alguns requisitos que agradam à maioria dos leitores: o destino, ou destinos, são exóticos, situam-se longe, e de difícil acesso. O padrão tem vindo a mudar, é certo: o mercado do turismo impinge qualquer destino desde que possamos pagar.
E continua a mudar também com o nosso contributo, sobretudo à pala de duas “novidades”. A primeira é que vamos privilegiar o pequeno em detrimento do grande e do monumental; a segunda é que, para além das fotos, vamos recorrer bastas vezes ao esboço (como já se tinha avançado).
Prossigamos então.

Texto:Anselmo Cunha; Riscos: Carlos Matos

Termo de Abertura


Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.
Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse…
Nunca perseguí la gloria.
Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar…
Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”
Golpe a golpe, verso a verso…
Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”
Golpe a golpe, verso a verso…
Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
“Caminante no hay camino,
se hace camino al andar…”
Golpe a golpe, verso a verso…
Poema lindo, a “conduzir”, perdão, a condizer com o nosso propósito: fazer caminhos a andar.
Como bónus, fica também a cantiga que o Juan Manuel Serrat fez com o mesmo poema: