O caminho interior é uma grande realização.
Precisa de uma banda sonora. Coisinhas que tenham a ver com...claro.
Começou com o poema do A Machado musicado pelo Juan Manuel Serrat.
Podemos prosseguir com a Loreena Mckennitt:
Mais propostas?
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
INSTANTÂNEOS - II
Ao longe, a personagem já aparentava algo incomum: magra,
muito magra, vestida de preto da cabeça (coberta com um lenço), até aos pés (enfiados
numas pantufas com visíveis sinais de muito uso). Puxado por um baraço,
arrastava atrás de si o chassis daquilo que em tempos terá sido um carrinho de bébé, sobre o qual foi colocado um cartão para servir de base. Qualquer criança tenderia a ver naquela figura a personagem
maléfica de uma história qualquer. E, se atentasse nos pormenores, fugiria a esconder-se
debaixo da cama: a mesma figura apresentava mãos esquálidas a deixar salientar todos os carpos e
metacarpos, unhas ligeiramente compridas e sujas; cabelo grisalho e desgrenhado, dentes em falta e nariz adunco
numa face que os anos e as agruras enrugaram em excesso; e os olhos… melhor, o
olho que não tinha, tapado por uma espécie de cicatriz por baixo da pestana.
Definitivamente, uma bruxa. Má, seguramente. A todo o momento sairiam faíscas
das suas mãos que transformariam qualquer criança num salta roscas, enquanto
soltava risadas histéricas por entre os dentes cariados. De que era preciso
fugir e ir rogar à avó que deitasse a pinga do azeite no prato com água e rezasse a
mézinha para contrariar o mau olhado.
Nós parámos. Saudámos:
- Bom dia.
Respondeu uma voz com sotaque cigano:
- Atão bons dias.
Da conversa de circunstância sobre o carrinho e o tempo e o frio que fazia, veio a confissão:
- Vou ali a róbér uns gravatitos para me aqueceri.
- Faz vomecê muito bem, qu’isto está é para ficarmos
quedinhos junto ao lume. Não faça como alguns parvos que andam por aí a
caminhar pelos caminhos velhos, de manhãzinha cedo e longe de casa.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Diário de caminhada: etapa III, Peroviseu - Belmonte
“Da nossa casa a Santiago de Compostela”,
etapa III, Peroviseu - Belmonte.
12 de Janeiro de 2013
Às 6 da manhã estava frio, bastante frio, um nevoeiro
cerrado abatia-se sobre a cidade albicastrense. Os caminhantes apresentaram-se
quase todos de gorro na cabeça e luvas para as mãos não arreganharem. Após os
beijinhos e abraços da praxe, e dos bons dias esfumaçados, a comitiva partiu
rumo ao Largo da Igreja de Peroviseu, concelho do Fundão, via A23.
Excepcionalmente, desta vez utilizou-se a autoestrada. Mas ela que não se aveze
porque a vida não está para luxos destes. O nevoeiro limpou por alturas da
Soalheira (tinha de ser na Soalheira, claro), o que deixou agradados os caminhantes,
porque caminhar com visibilidade de 20 metros já bastara o início da etapa II
entre Louriçal e Peroviseu. É extremamente frustrante subir e descer a Gardunha
sem poder apreciar as fabulosas vistas que lá de cima se oferecem aos olhos.
Faltariam 14 minutos e meio para o nascer do sol do Borda
d’Água, quando os 15 magníficos se fizeram ao caminho, com vontade firme de
atacar a serra que separa as localidades de Peroviseu no concelho do Fundão e
do Ferro no concelho da Covilhã, denominada ela do Meal Redondo. Antes porém,
no meio do burburinho dos preparativos, destacava-se o ar concentrado do Xquim
Branco a fazer os registos no caderno de bordo e a carregar no GPS o percurso
que resultou dos seus aturados estudos sobre o troço local do caminho interior.
A meio da subida, já se notava a respiração ofegante dos
mais pesados. E dos outros também. As breves paragens para descanso tinham um
bónus: a leste, numa nesga do horizonte livre de nuvens, desenhava-se Xálima, o
ponto mais alto da Sierra de Gata, enquadrado num fantástico cenário em tons de
amarelo e laranja. Houve quem tivesse registado digitalmente o espetáculo.
O percurso até Peraboa decorreu sereno por entre grandes
vinhedos bem tratados, pomares de cerejeiras e pastos. De quando em vez,
abatia-se sobre nós uma breve rajada de chuva miudinha, nada que nos tolhesse o
passo.
Às 10 da manhã já estávamos a entrar na aldeia e, claro, a segunda
edição da bucha. Houve quem, do chamado sexo fraco, por sinal, se pusesse
bravamente a beber vinho do Porto.
Virada a sul, a mansão goza de vistas fabulosas: são
visíveis os recortes da Gardunha e do Açor como que ajoelhados à imponência do
maciço da Estrela ali logo ao lado; para leste vislumbram-se o penhasco de
Sortelha e as serranias da Opa e da Malcata; lá em baixo, o irregular puzzle
dos campos cultivados da Cova da Beira.
O caminho da Chandeirinha havia de nos
levar até Belmonte, tendo ficado por dar uma saltada ao castro com o mesmo nome,
desmotivada pela completa falta de informação, e ainda com passagem ao lado do
Convento de Belmonte que também é Pousada.
No final, já em Belmonte, ali mesmo junto à Igreja-museu de
Santiago (onde mais poderia ser?), o Xquim Branco informou que a etapa fora
cumprida de acordo com o plano e comprida em 30 quilómetros e 600 metros. E
disse mais, com ar orgulhoso: “e o percurso que fizemos foi exactamente o que
tinha sido programado aqui no meu GPS”. Toda a gente lhe bateu palmas, dois
aplicaram-lhe um calduço cada um. Ele merecia os mimos!
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Sketches 2012
No texto de abertura anunciava-se que este blogue iria ter e cito "uma novidade distintiva, com esboços (sketches, para quem não está à vontade no português)." Fim de citação.
E, como o que é prometido é devido, aqui fica uma selecção de Sketches (desenhos, para quem não está à vontade no linguarejar de sua magestade :-)
A música é também de um andarilho:
Jorge Palma; (enquanto houver estrada para andar) A gente vai continuar. E vai mesmo
Confraria dos caminhos 2012 from carlosazvmatos on Vimeo.
A música é também de um andarilho:
Jorge Palma; (enquanto houver estrada para andar) A gente vai continuar. E vai mesmo
Confraria dos caminhos 2012 from carlosazvmatos on Vimeo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)