quinta-feira, 19 de setembro de 2013

INSTANTÂNEOS - VII


O carro fez-se anunciar com uma batida forte e sincopada, vistoso e potente como todos os que saem da fábrica de motores da Baviera: preto, jantes especiais, tecto de abrir, vidros fumados, bancos em couro, uma volumosa cruz (com o Cristo) cor de prata baloiçava do espelho retrovisor. O condutor não era menos vistoso: cabelo bem penteado para trás a tapar as orelhas, brinco no lóbulo da orelha direita, camisa de seda em roxo clerical, desapertada até ao 4º botão para deixar ver um fio de grossas argolas em ouro terminado numa brilhante cruz (sem o Cristo), calça preta bem vincada e sapatos exageradamenge bicudos e de lustro bem puxado. Travou a fundo junto do Matos que ia isolado na frente do grupo e perguntou, directo:
-  O que se passa aqui?
Explicou-se-lhe de onde vínhamos e para onde íamos. Quando verdadeiramente se apercebeu da nossa intenção de chegar a Santiago de Compostela a pé, a sua reacção foi espontânea e expressiva:
- FODA-SE!!! Vou já buscar-vos uma bebida fresca.
E foi.
Conhecia muito bem Castelo Branco, até lá tinha um grande amigo, quase um irmão, um tal F. Confidenciaria discretamente aos elementos masculinos que o tal F. tinha um “negócio da noite”. Malogradamente ninguém conhecia F., levando-nos mesmo a pedir desculpa por tal falha. Entregou-nos um cartão que ele classificou como “salvo conduto” e recomendou viva e repetidamente para entregarmos um abraço a F. da parte dele.

Se calhar, havemos de ter de honrar o compromisso. Uma noite destas…