terça-feira, 26 de julho de 2016

Diário de Caminhada - Caminho Inglês - Etapa III


3ª ETAPA:  SIGUEIROS - COMPOSTELA

11/06/2016

Distância: 18,1 km
Tempo total: 04:26 horas
Tempo em movimento: 03:50 horas
Tempo parado: 00:36 horas
Velocidade média: 4,7 km/h
Altitude máxima: 284 metros

Track aqui

Caminhantes: Anselmo Cunha, Conceição Branco, Elsa Branco, Fernando Micaelo, Jaime Matos, Joaquim Branco, Paula Marques, Raul Maia e Teresa Martins.



Às 07:10 já estávamos a passar por cima do rio Tambre. O dia ofereceu-se bom para caminhar, o moral das tropas elevado, inspirando mesmo algumas discussões acaloradas sobre qualquer coisa que tinha a ver com o papel dos sindicatos na sociedade capitalista ocidental em geral, na sociedade portuguesa em particular, na classe dos enfermeiros ainda mais em particular.

Caminhada tranquila, pois, maioritariamente por entre bosques, ao lado de algumas unidades industriais até às imediações de Compostela. Entrada triunfal no Obradoiro onde fomos ovacionados pelo Carlos Matos que desta vez se meteu a fazer uma perninha voluntária no albergue “Fim do Camiño”, gerido pela Associação de Peregrinos Via Lusitana.

Ainda antes do duche no hostal do costume “O ultimo sello”, ali a 200 passos da catedral, rua do preguntadoiro, receberam estes peregrinos instruções para se encaminharem rapidamente para a Catedral porque ia haver botafumeiro na missa do meio dia. A entrada fez-se mesmo a tempo de testemunhar o início da eucaristía, isto graças a um pormenor que tem de se deixar registado.










A “Porta Santa”, na praça Quintana, mais ou menos oposta à “Porta da Glória” que dá para o Obradoiro mas que se encontra em obras de restauro e conservação, abre apenas nos anos santos, mais conhecidos por Jubileo ou Jacobeo – sempre que o dia de Santiago que se celebra a 25 de Julho coincide com um domingo. O próximo será em 2021. Acontece que Francisco, Sumo Pontífice, na sua infalibilidade, decretou um ano jubilar extraordinário que iniciou 08/12/2015 e vai até 20/11/2016. Eis porque, excepcionalmente está aberta a “Porta Santa”, por onde estes humildes peregrinos acederam à magnífica Catedral de Santiago de Compostela. 

Nota muito importante: desde 1122, é a primeira vez que a Porta Santa abre ao público, fora de um Jacobeo. De maneiras que, é de aproveitar. Até 20 de Novembro.



Naquela tarde de 11/06/2016, Compostela ainda havia de oferecer aos peregrinos e demais visitantes uma animação surpresa, com inúmeros grupos de gaitas de foles, acordeões, guitarras e pandeiretas e muita gente a cantar, espalhando por ruas e praças da zona antiga a contagiante música tradicional galega. Era o VI Encontro de Cantares de Taberna.




Domingo, 12/06/2016, a greve dos ferroviários espanhóis obrigou-nos a mais de 3 horas de autocarro até ao Porto. Com uma francesinha a aconchegar, o cavalo de ferro rumou a sul e devolveu-nos a terras da Beira Baixa.



Prontinhos para o próximo camiño...

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Diário de Caminhada - Caminho Inglês - Etapa II

2ª ETAPA: BRUMA - SIGUEIROS

10/06/2016

Distância: 25,6 km
Tempo total: 07:02 horas
Tempo em movimento: 05:32 horas
Tempo parado: 01:30 horas
Velocidade média: 4,6 km/h
Altitude mínima: 241 metro
Altitude máxima: 422 metros

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Caminhantes: Anselmo Cunha, Conceição Branco, Elsa Branco, Fernando Micaelo, Jaime Matos, Joaquim Branco, Paula Marques, Raul Maia e Teresa Martins.

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. A nossa pequena comunidade de 9 portugueses celebra o dia por estas terras galegas.

Saída de Bruma às 07:15, meteorologia favorável: nublado, fresco q.b., visibilidade e luz excelentes. Tirada com longos trajectos em ambiente rural, quase sem casas a estragar a vista, tornando a etapa mais interessante e agradável do que a primeira. Dois destaques: o primeiro vai para os túneis de frondosos loureiros que abundam, em que apetece caminhar devagar, para sentir os odores e o fresco, apreciar os verdes sombreados e escutar a polifonia dos chilreados; o segundo pormenor a merecer destaque é a longuíssima recta ondulada de vários quilómetros que leva o peregrino quase à entrada de Sigueiros.











Em Sigueiros não existem albergues da rede pública, o que permite marcação prévia nos privados disponíveis. Por nós, Xaime escolhera o Fogar da Chisca, uma unidade simpática e acolhedora, com condições aceitáveis para quem não é muito exigente, e, sabemo-lo, não podem existir peregrinos de Santiago exigentes. Mesmo quando os colchões particularmente ruidosos, como neste albergue, competiam com os roncos dos do costume.

Recebeu-nos Doña Josefina, mulher alegre e despachada: “todos me chaman por CHUS, que te parece, cariño?” Haviamos de constatar que todos os peregrinos tinham direito a ser tratados por “cariño”. Fogar significa casa/lar, e Chisca era o nome da sua cadela que ela amava como uma filha e que morreu com 21 anos. Não conseguiu evitar as lágrimas a contar-nos a sua história. Depois de recomposta e de muita conversa, CHUS havia de se sair com esta: “o falar no tem cancelas”. Pois não.

Lanche ajantarado no Méson de Tambre, um restaurante propriedade de um português para aqui veio fixar-se há 20 anos.

Amanhã, iremos dar um calduço ao Santiago.

sábado, 2 de julho de 2016

Diário de Caminhada - Caminho Inglês - Etapa I


1ª ETAPA: A CORUÑA – BRUMA

09/06/2016

Distância: 35,2 km
Tempo total: 10 horas
Tempo em movimento: 8 horas
Tempo parado: 2 horas
Velocidade média: 4,3 km/h
Altitude mínima: 1 metro
Altitude máxima: 445 metros

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Caminhantes: Anselmo Cunha, Conceição Branco, Elsa Branco, Fernando Micaelo, Jaime Matos, Joaquim Branco, Paula Marques, Raul Maia e Teresa Martins.







Para chegar a A Coruña, a partir de Castelo Branco é preciso sair cedo, quase 2 dias. O chefe da estação apitou para autorizar a partida do comboio das 15:20, às 15:20, rumo ao Entroncamento, onde subimos para o que nos levou até Porto Campanhã; daqui foi um saltinho até São Bento, o mesmo saltinho novamente para Campanhã, depois outro para Vigo, finalmente outro que nos conduziu à antiga capital da Galiza. No meio, dormida no Porto, Rua das Flores, com direito a sangria em esplanada de Mafamude que é como quem diz, ali na ribeira, à beirinha do Douro.
A Coruña é uma cidade média à escala ibérica, albergando cerca de 250 mil almas, com muito para ver. Seleccionámos a torre de Hércules ou torre de Bréogan, por ser o monumento mais antigo e mais emblemático. Parece que é o farol em funcionamento mais antigo do mundo. Instalação em plena zona histórica, de ruas estreitas, no Hostal Hotil, preços e condições aceitáveis.






O dia ofereceu-se-nos fresco às 06:15, nublado mas sem precipitação. Bem dispostos, alegres e contentes, atacámos a 1ª etapa desta variante do Camiño Inglés determinados a enfrentar os mais de 36 quilómetros que nos conduziu a Bruma. Nos primeiros 5 rolámos pelo perímetro urbano de A Coruña, junto a um braço da ria, passagem ao largo do aeroporto até nos embrenharmos finalmente no típico caminho em espaço predominantemente rural. Todos os cronómetros já registavam mais de 3 horas de esforço sem pequeno almoço, por falta de tascas, quando a salvação surgiu miraculosamente numa carrinha de venda ambulante de pão, conduzida pela mui simpática Sandra, mesmo pertinho de um fontanário que debitava um caldeiro de lata dos grandes a cada 30 segundos. Desnocou-se o pão quentinho, entremeou-se com chouriço e queijo, e eis que o ânimo ressuscitou, a pontos de inspirar o nosso Jaime que, cumprindo uma tradição muito sua, presenteou a sua amada Paula com umas rosas surripiadas a um quintal galego.



Foi preciso galgar mais um bom par de quilómetros até Sergude onde finalmente foi possível tomar um cafezinho no Adolfo. A dona apressou-se a informar-nos que existe um albergue público em Sergude, novinho, com excelentes condições, pouco utilizado. Seria uma boa opção se não tivéssemos planeado pernoitar em Bruma e plano é plano, talvez para a próxima. Fomos prometendo que divulgaríamos a novidade e aí está ela: para quem pretender fazer o Camiño Inglés a partir de A Coruña tem um albergue da rede pública à vossa espera em Sergude. O que ganham com isso? Localiza-se mais ou menos ao vigésimo quinto quilómetro, antes da terrível tirada de cerca de 5 quilómetros pronunciadamente inclinados que se seguem, logo a seguir ao Café Central em Desabanda a que os galegos chamam A Costaneira. Se não fossem os chupitos de hierbas que aí degustámos, ficaria complicado chegar à antena que plantaram quase no topo.




A reposição de líquidos é possível em As Travessas, a um saltinho do albergue de Bruma, onde manda o jovial e despachado D. Benino. Chegámos em boa hora: a lotação é pequena e 10 minutos depois já estava a chegar um grupo de pesados alemães, e depois outro, provenientes de Ferrol que já não tiveram lugar. Felizmente para eles, D. Benino está preparado para os reencaminhar para os albergues privados de Meson do Vento. Ali, a 50 metros do albergue, restaurante e esplanada satisfatórios.



Curiosidades recolhidas junto de D. Benino:
- em 2015, pernoitaram no albergue de Bruma mais de 4000 peregrinos;
- a maioria são espanhóis, seguidos de italianos, portugueses e alemães em número aproximadamente igual;
- há mais irlandeses a fazer o Camiño Inglés do que súbditos de Isabel II, que são mesmo raros;
- peregrinos de outras nacionalidades são residuais;
- na história do albergue foi registado um peregrino, único, da Namíbia;
- não há muitos peregrinos a fazerem o Camiño Inglés a partir de A Coruña; a esmagadora maioria parte de Ferrol, seguramente porque é esse que dá direito à “compostela”;

- neste dia, teremos sido os únicos que saíram de A Coruña.