domingo, 11 de outubro de 2020
quarta-feira, 30 de setembro de 2020
COLÓQUIO
terça-feira, 22 de setembro de 2020
INSTANTÂNEOS - XXI
No nosso curriculum, já acumulamos várias centenas de milhas,
com alíneas a reportar trajectos no Caminho Português, no Português Interior, no
Camiño Torres, na Via Portugal Nascente, no Primitivo, no Inglês,
Muxia-Fisterra, Caminho da Costa … Em projecto estão muitos outros, todos quantos pudermos.
Este despretensioso blogue foi dando conta – e continuará a
dar – de episódios, de peripécias, de “instantâneos” protagonizados ou
testemunhados por estes peregrinos que partilham o gozo de palmilhar o Caminho.
O Caminho da Costa ofereceu-nos um “instantâneo” algo
peculiar.
Foi numa ruela estreita da extensa urbe que se estende entre
Vila do Conde e a Póvoa do Varzim, ali mesmo ao lado das Caxinas, terra de
pescadores, que um autóctone sénior nos fez parar para perguntar:
- Vós andais a fazer o Caminho?
Algo titubeantes, considerando o óbvio reflectido nos nossos
adereços, gaguejámos:
- Sim, andamos.
O cavalheiro olhou-nos ostensivamente de frente e completou a
pergunta:
- Vós andais a fazer o Caminho, ou o Caminho é que vos anda a
fazer?
Nos peregrinos arcaicos, a matriz motivacional remetia para
uma dimensão iniciática, mística, esotérica apontada ao finis terrae; após a apropriação cristã dos locais de culto
druidas, a pulsão para peregrinar é marcada quase exclusivamente pelo espírito
religioso; nos tempos recentes, a laicização do caminho deu entrada a todo o
tipo de procura, integrando modernices como a busca interior, o espírito de
aventura e até, simplesmente, o desporto.
Comparado com o antigo – e o antigo aqui vale, digamos, 30 a
40 anos -, o peregrino moderno tem a vida facilitada, como é fácil de
reconhecer: caminho marcado para não se perder, albergues e restaurantes com
fartura para descansar e se alimentar, roupas sofisticadas para aliviar o
sofrimento, equipamento tecnológico… enfim, só tentações para ele se
transformar num “turigrino”.
Àparte o propósito, para todos – antigos e modernos – o Caminho
significa sempre uma procura, uma demanda, uma senda. Inacabada, porque para muitos,
a pulsão para voltar, volta, mais cedo ou mais tarde.
Parece haver um elemento comum: nunca se regressa igual.
- Vós andais a fazer o Caminho, ou o Caminho é que vos anda a
fazer?
Emudecemos.
A carga filosófica subjacente a pergunta tão singela ficou a
pesar no sub-consciente.
O que é que o Caminho nos anda a fazer?
terça-feira, 1 de setembro de 2020
quarta-feira, 26 de agosto de 2020
Caminho Português da Costa
Caminho Português da Costa
Porto – Valença, 18 a 26/07/2020
Caminhantes:
Anselmo
(Porto-Viana), Conceição Pires, Joaquim Branco, Elsa Maia, João Branco
(Viana-Valença), João Maia, Pedro Branco, Raul Maia, Rita Maia.
A
jornada começa no dia 18/07 com a viagem de comboio até ao Porto, e metro até à
Póvoa do Varzim. Aproveitando a rede metropolitana, estabeleceu-se a base na Póvoa do varzim, nos
primeiros 4 dias.
2
notas especiais: a primeira para a benfeitoria do nosso Raul Maia e da sua
Sports Design que patrocinou 2 tshirts a cada um dos caminhantes, logotipo da
Confraria à frente, seta amarela atrás; a segunda para a máscara personalizada
com o logotipo da Confraria dos Caminhos, iniciativa do nosso Xoaquim Branco.
1ª Etapa, 19/07/2020
Porto – Modivas
Distancia: 21.9 km
Tempo movimento: 4:31
Tempo total : 6:04
Media: 4.7km/h
Tempo parado: 1:23
Altitude: 21mt
A jornada começa bem cedo, com a viagem de metro entre a Póvoa e o Porto. Para quem não está familiarizado, por via da utilização diária, a rede de metro do Porto apresenta estações com alguns nomes peculiares, como “Fonte do Cuco”, “Espaço Natureza” ou “Portas Fronhas”; depois, também se pode desconfiar do critério que atribuiu a outra a completa designação de “Vila do Conde Fashion Outlet Modivas”.
Partida
oficial da Sé do Porto. O percurso segue monotonamente por avenidas, ruas e
ruelas da área metropolitana do Porto, suscitando a ansiedade por chegar a
campo aberto. Será preciso contornar o aeroporto para se chegar à estação de
Modivas que marcará o fim da etapa.
2ª Etapa, 20/07/2020
Modivas – Póvoa do Varzim
Tempo movimento: 4:25
Tempo total : 6:26
Media: 3.9km/h
Tempo parado: 2:01
Altitude: 34 mt
Durante
a primeira hora de caminhada, o trajecto é agradável, por entre alguns bosques
e pequenas searas de milho que nesta altura e nesta zona se apresentam com um
viço exuberante e já embandeirado.
Entra-se
depois no comprido e serpenteante tecido urbano que nos conduzirá por Vila do
Conde, ao lado das Caxinas e Póvoa do Varzim. Fazem-se notar as inúmeras
vivendas com piscina, muitas delas construídas naquele modelo arquitectónico
dominante nas décadas de 70 e 80 do século passado, cujo elemento mais saliente
é o seu revestimento exterior a azulejo berrante. Na cidade do Ave sobressai o
imponente Mosteiro de Santa Clara e a majestosa Igreja de São João Batista.
Mesmo à chegada a Vila do Conde, eis que a GNR nos tolhe o passo e nos dá ordem para parar. O nosso Sargento Humberto, peregrino veterano, milhões de passadas no seu vasto currículum no que toca a Camiño, queria saber se precisávamos de algo.
A tarde foi de praia, num mar surpreendentemente calmo e água a temperatura algarvia.
3ª Etapa, 21/07/2020
Póvoa do Varzim- Esposende
Distancia: 26.8 km
Tempo total : 9:11
Media: 4.2 km/h
Tempo parado: 2:48
Altitude: 10 mt
Depois de 2 etapas em espaço predominantemente urbano, o Caminho começa a justificar finalmente o nome “da Costa”. Em boa parte do percurso, o piso é em passadiço de madeira com a orla marítima e praias quase sempre à vista, convidando a manter o olhar fixado entre as 9 e as 11. Fácil e agradável.
Na
Apúlia, almoço na esplanada da Adega do Agostinho. Peixe, evidentemente. Foi
aqui que calhou sermos úteis. Já tínhamos encomendado umas clarinhas para
sobremesa quando na mesa ao lado, um octogenário de Braga se sente mal e,
literalmente, cai da cadeira. Os nossos profissionais de saúde (Pedro, médido,
São e Elsa, enfermeiras) saltaram imediatamente para a assistência, os
restantes ajudaram na libertação de espaço para o ancião jazer na horizontal
até à chegada do INEM. A rapidez e eficácia colocada em acção terá
impressionado a família bracarense do assistido senhor, desfazendo-se em
elogios e agradecimentos. Registado, mas o espírito do Caminho também é feito
destas posturas solidárias e incondicionais.
Resto
de trajecto descontraído até à majestosa foz do Cávado e ao AL que nos albergou
em Esposende.
4ª Etapa, 22/07/2020
Esposende – Viana do Castelo
Tempo movimento: 5:57
Tempo total : 8:37
Media: 4.2 km/h
Tempo parado: 2:39
Altitude: 14 mt
O caminho deixa de ser da “Costa” novamente logo à saída de Esposende, virando ligeiramente para nordeste, conduzindo-nos através do povoamento disperso característico do Minho. Embalados pela quase ausência de desníveis das últimas etapas, fomos obrigados a reparar nas subidas e descidas que esta etapa nos oferecia. Ainda por cima, o calor de Julho também se quis fazer notar.
O
trajecto segue agora maioritariamente em floresta. A travessia do Neiva tem de
fazer-se com alguns cuidados pelas poldras deixadas pela ponte caída que “liga”
os municípios de Esposende e Viana. A fadiga imposta pela subida até à Igreja
de Santiago do Castelo do Neiva é atenuada pela pausa concedida pelas
excelentes condições disponíveis no complexo. Mais floresta até à Igreja de S.
Romão do Neiva, antes de entrar na “área metropolitana” de Viana do Castelo. Pouco
faltava para o sino tocar as 3, estávamos nós com o santuário de Santa Luzia à
vista. Apesar da hora, a Nela, na sua tasca, havia de nos alimentar com um
farto rancho à minhota, binho berde e tudo o mais a que tínhamos direito.
Depois,
foi só aproveitar a ponte Eiffel sobre o Lima.
5ª Etapa, 23/07/2020
Viana do Castelo – Caminha
Tempo movimento: 8:05
Tempo total : 10:25
Media: 4.1 km/h
Tempo parado: 4:22
Altitude: 8 mt
Mudança de base: depois da Póvoa do Varzim, passamos agora para Vila Nova de Cerveira, utilizando a linha do Minho para as deslocações até aos pontos de partida.
Testemunhas
da nossa partida foram o Santuário do Sagrado Coração de Jesus lá no alto do
Monte de Santa Luzia e, menos imponente, o edifício Coutinho, o tal que está
para ir abaixo há 20 anos. O percurso foi andado sempre a meia encosta com
vista para o Atlântico, com direito a conferir a temperatura da água em Afife e
em Moledo. No meio, Vila Praia de Âncora ofereceu-nos um almoço de posta.
Com
o Monte de Santa Tecla a espreitar-nos pelas 9 horas, chegada tranquila a
Caminha, trauteando a história da minhota:
foi num baile a meio de junho
entre canecas de vinho
e ela em vez de ganga russa
tinha um corpete de linho
enquanto a moça dançava
a mim dáva-me a doideira
já não sei se era do vinho
ou se era da bailadeira
tive que ir a ter com ela
a perguntar-lhe de onde vinha
e ela respondeu manhosa
c'um raios sou de caminha
eu contei-lhe o que sentia
que me tinha apaixonado
e ela disse-me que ainda a procissão ia no adro
e
a minhota prometeu-me que ainda havia de ser minha
quando se acabar o baile vai-me levar pra caminha
mas o vinho não perdoa e a manhã veio apressada
a minhota foi-se embora e eu nem sequer dei por nada
acordei com o sol alto no terreiro já vazio
tudo aquilo parecia que era um sonho fugidio
quis ir à procura dela, pensei nela todo o dia
mas passaram tantas horas, onde é que ela já estaria
pra que bebi tanto vinho, fiquei tão arrependido
não me saia da ideia o que ela tinha prometido
a
minhota prometeu-me que ainda havia de ser minha
quando se acabar o baile vai-me levar pra caminha
(letra e música de Sebastião
Antunes/Quadrilha)
6ª Etapa, 24/07/2020
Caminha – Vila Nova de Cerveira
Tempo movimento: 4:16
Tempo total : 5:49
Media: 4.1 km/h
Tempo parado: 1:32
Altitude: 24 mt
Os primeiros passos são logo na ponte sobre o estuário pantanoso do rio Coura, prosseguindo quase sempre com vista para o rio Minho, a Galiza logo ali do outro lado. Sucediam-se os solares, alguns deles imponentes, todos brasonados, testemunhas de muitas histórias, e de muita história, protagonizada que terá sido por habitantes antigos, gente de linhagem nobre, aristocratas e burgueses.
Chegada
a Cerveira a horas de almoço. Na vila das artes já se notava alguma agitação
nos preparativos da Bienal Internacional de Arte, cuja vigésima primeira edição
irá cumprir-se do primeiro de agosto até ao último dia de 2020.
7ª Etapa, 25/07/2020
Vila Nova de Cerveira – Valença
Tempo movimento: 3:45
Tempo total : 6:04
Media: 4.5 km/h
Tempo parado: 1:38
Altitude: 80 mt
Última etapa deste nosso projecto.
À
semelhança do anterior, o percurso segue quase sempre próximo do rio. Fácil e
tranquilo, apesar do cansaço acumulado.
Para
memória futura, registe-se que à comemoração de mais um projecto cumprido desta
nossa sã teimosia de regularmente fazermos o caminho de Santiago, calhava ser
dia de aniversário de bodas matrimoniais dos nossos Raul e Elsa Maia, e, ainda
com o bónus da visita do patrício Rui quelhas que, estando na zona, ajudou e
abrilhantou a festa final.
A
tarde, já novamente na base Cerveira, foi dedicada à feira – feira a sério, à
minhota – e saltinho ao miradouro do Cervo para apreciar as espectaculares
vistas que dali se alcançam (cortesia na nossa anfitriã, antiga camarada
d’ármas do nosso Raul, na missão cumprida na Bósnia há um quarto de século.
Não
tardará muito a que cá voltemos. Esperamos nós que assim seja.
segunda-feira, 27 de julho de 2020
INSTANTÂNEOS - XX
As paragens técnicas fazem parte do plano que o nosso
estratega Joaquim Branco delineia previamente. No Caminho da Costa, para além
da beleza do trajecto através dos passadiços à beira mar, é possível, a
qualquer momento, fazer uma pausa numa esplanada quase em cima da areia. Foi
numa dessas paragens técnicas de reposição dos níveis que um simpático sénior
meteu conversa connosco.
Fez questão de nos apresentar um relatório sucinto mas muito
preciso sobre os muitos achaques de que padecia, para justificar que a sua
condição física não lhe permitia fazer o Caminho como ele bastas vezes disse
que gostaria. Com base na informação fornecida, os profissionais de saúde
presentes não tiveram dúvidas em receitar que ele deveria continuar a ficar-se
apenas por cumprimentar os peregrinos que por ali passarem.
Despediu-se com os votos habituais de Bom Caminho e foi-se
para oeste. Antes de entrar na areia, porém, deu meia volta e veio de novo junto
de nós:
- Os meus amigos são capazes de me fazerem um favor?
- Só se não pudermos de todo.
Colocou o seu ar mais sério e, na musicalidade lexical e fonética
de um verdadeiro minhoto, pegou numa moeda e apresentou o seu pedido:
- Quando chegarem a Santiago, deitem lá esta moedinha ao
Santo, para ele acabar com o caralho do Cóbide.
Estamos, pois, fiéis depositários de uma moeda de 20 cêntimos, e com o compromisso de a introduzir na caixa de esmolas da catedral de Compostela.
Obviamente, tencionamos honrar escrupulosamente esse compromisso.
A tremenda
carga simbólica do gesto do simpático sénior minhoto tocou-nos, alimentando a
nossa ligação ao Caminho. Concordámos logo ali que nos juntaríamos na sua
intenção e reforçaríamos, à nossa conta, o montante a entregar a Santiago para
ele acabar com o não sei quê do tal Cóbide.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2020
ALBERGUE DOS AMARELOS
E o "albergue" dos Amarelos já está a cumprir a sua função.
Desde a sua inauguração em maio de 2018, já foi utilizado por 33 peregrinos.
Eis as primeiras estatísticas, a partir do livro de registos:
2018 - 9 peregrinos
2019 - 24 peregrinos
O peregrino mais velho já completara 73 anos
O peregrino mais novo ainda não tinha chegado aos 16
Em 2018, pernoitaram nos Amarelos:
Portugueses - 7
Alemães - 2
Em 2019, pernoitaram
Portugueses - 14
Polacos - 7
Espanhóis - 3
O mês com mais registos foi Agosto de 2019: