Porto
de Vacas, 09 de Fevereiro de 2013
A
organização chamava assim:
Comemore o Carnaval de forma diferente percorrendo o Caminho do Xisto de
Porto de Vacas, um dos seis da rede de Percursos Pedestres do concelho de
Pampilhosa da Serra.
Porto
de Vacas é a terra natal do Manel Bento. No ano passado teve artes para nos
levar a participar na caminhada que a comissão de melhoramentos de Porto de
Vacas e parceiros organizaram. Não, a nossa participação não teve nada a ver
com o facto de a inscrição, reforço e almoço carecerem de qualquer
comparticipação da nossa parte, assumindo a autarquia os custos da operação.
É
preciso entender e enquadrar a estratégia que está por detrás deste tipo de
iniciativas. Numa análise mais fina ela inscreve-se num paradigma que tem no
seu núcleo duro a teoria do intervencionismo compensatório. Em termos mais
claros, assenta na ideia de que nos territórios desfavorecidos, de baixa
densidade, se se preferir, a fragilidade da dinâmica “civil” tem de ser
compensada pela acção das autarquias, sob pena de se agravar o movimento de
abandono a que parecem estar votados. No caso, os resultados estão à vista: se
a autarquia não tivesse tomado a iniciativa de canalizar alguns dos seus
recursos, mobilizando igualmente a câmara municipal da Pampilhosa, os bombeiros
voluntários, o projecto aldeias de xisto, e a comissão de melhoramentos,
provavelmente, uma boa parte dos cerca de 300 participantes desconheceriam
agora que existe uma aldeia simpática, localizada num cenário natural fabuloso,
onde se produz um pão de azeite delicioso, um queijo que combina muito bem,
aguardentes gulosas de vários travos, tigelada da verdadeira, etc, etc. Nesta
perspectiva, poderemos aceitar, que a autarquia não deverá inscrever os custos
na rubrica das despesas mas na do investimento. Lá mais para a frente, o senhor
que veio de propósito de Lisboa, sózinho, vai querer voltar para descobrir o
resto, e trará com ele a família e alguns amigos.
No
que nos diz respeito, a nós, confrades, também contribuiu para a decisão de
participarmos na caminhada de 2012, a promessa de inaugurarmos um pipo na adega
do parteiro do Manel. Sim, que o Manel teve a ajuda do Ti Zé Alfaiate no
momento do parto. Confirmado pelo próprio, era ele adolescente imberbe de 15
anos, já fazia pela vida nos negócios do pai do Manel, quando a patroa entrou
em trabalhos de parto. À falta do INEM, alinhou o rapazinho. E o Manel lá saiu
para enfrentar o mundo. E por aí anda, pesadote.
Já
veteranos à conta da (boa) experiência do ano passado, voltámos a aceitar o
convite para a edição de 2013, sem ligarmos nada à novidade de que ia haver
prova de produtos locais, para além, claro, do almocinho, e lá comparecemos 17
confrades, prontos para ajudar no que fosse preciso.
À
descida para Janeiro de Cima, o Zêzere estava coberto por um comprido e sinuoso
manto de algodão branco que não deixava ver na sua plenitude o magnífico
cenário que enquadra a aldeia de Porto de Vacas. Levantaria ainda antes do
início da caminhada.
Sensivelmente
a meio, a organização preparou-nos uma pequena lição e demonstração pratica. Um
antigo resineiro esperava-nos no meio do pinhal numa curva do caminho que
descia ao vale de muro armado de utensílios vários apropriados à tarefa de extrair
resina dos pinheiros bravos. Com visível entusiasmo na sua função efémera de
professor ia explicando os trabalhos que ia realizando. Começou por remover uma
parte da casca na base do pinheiro, depois espetou uma peça de metal ligeiramente
aconcavada que servia para direcionar o fluxo da resina para o recipiente de
plástico que colocou imediatamente por baixo. Quando tudo já estava en su
sitio, pegou numa bisnaga com um líquido esbranquiçado e borrifou a ferida por
cima do metal, para, disse o resineiro, “puxar a resina”. Um brincalhão, se
calhar um enfermeiro, ainda perguntou se, puxar por puxar, não seria mais
prático espetar no pinheiro a agulha de uma seringa e, puxar a resina. Que não!
Tinha de ser daquela maneira. Discretamente, Xquim Branco explicitou a questão
do “puxar a resina”: o líquido é um ácido que atrasa a reacção do pinheiro para
sarar a ferida e permitir assim que a resina continue a escoar por ali. As
coisas que o Xquim sabe…
Bom,
ficámos também a saber que a resina servia essencialmente para a produção de
aguarrás que, por sua vez, era utilizada como solvente e na fabricação de
graxas e tintas, e de pez branco utilizado, atenção a esta informação já fruto
de pesquisa nossa, para calafetar barris de cerveja (aqui). A extração de resina dos pinheiros
já foi uma actividade com alguma pujança em Portugal. Já não é. Parece que o
petróleo também possui este tipo de átomos e é mais barato (!).
Os
últimos 3 km foram feitos na companhia do Zêzere que ali corre sereno, por via
do dique construído mais à frente. À chegada, entraram os bombos de Dornelas do
Zêzere, para abrir o apetite para o discurso do senhor Presidente da Junta que
reafirmou a satisfação de ali ter mais de 300 pessoas que fizeram uma caminhada
“com muito estilo” (sic), e, sem mais demoras foram todos os caminhantes
ordeiramente recolher o arroz de feijão e grelhado misto de porco. Estava tudo
muito bom.
O
Rancho Folclórico e Bombos de Dornelas do Zêzere ofereceram um concerto honesto
durante as duas horas seguintes. O que lhes sobra em honestidade falta-lhes em
autenticidade. Do ponto de vista do reportório, entenda-se. Mesmo para quem
pouco ou nada entende de folclore, soa-lhe estranho que o rancho de Dornelas do
Zêzere, concelho da Pampilhosa da Serra, cante e dance o vira do Minho e lhe chame
vira do Zêzere.
No
próximo ano, somos capazes de estar disponíveis para inaugurar outro pipo.
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