“Da nossa casa a Santiago
de Compostela”,
Etapa
V: Fernão Joanes – Vila Cortês do Mondego
14
de Abril de 2013, domingo
Sinopse:
Distância
percorrida: 20,8 km
Tempo
total de caminhada: 6:15 horas
Tempo
em movimento: 4:49 horas
Tempo
parado: 1:26 horas
Velocidade
média: 4,4 km/h
Sítios
e povoados no percurso: Fernão Joanes, Meios, Trinta, Barragem do Caldeirão,
Miradouro do Mocho Real, Faia, Aldeia Viçosa.
Fonte:
GPS do Joaquim Branco
(ver
track aqui)
O
caminho é retomado em Fernão Joanes por volta das 08:30 de domingo, 14 do
quatro. O corpo está recomposto e fresco como a primaveril manhã, disponível para
aceitar mais umas horas de caminhada; o espírito, esse, reflectia-se nas
animadas conversas.
Nos
Meios, o povo ia-se juntando no pequeno adro da matriz para a missa das nove. À
semelhança de tantas outras aldeias, só se viam a chegar para o serviço
religioso figuras de perfil ligeiramente curvado e andar lento por via das
artroses. À pergunta brincalhona do Zé Manel: “então o caminho para Santiago de
Compostela é por aqui?” a informação veio honesta: “não! olhe que têm de ir à
Guarda”.
A
freguesia de Trinta espraia-se por uma extensa encosta e terá sido uma aldeia
próspera com inúmeras unidades na área do têxtil, designadamente, fiação de lãs
e produção de xailes, cobertores, mantas. O estado em que se encontravam alguns
edifícios indiciavam que esses tempos de prosperidade já pertencem ao passado
que terá tido início, eventualmente, em 1896 quando a aldeia de Trinta teve o
privilégio de ser uma das primeiras terras do país a dispor de energia
eléctrica.
O
percurso fazia-se agora com todos os santos a ajudar já a dar vistas para a
albufeira do Caldeirão. Alguns imprevistos na rota programada levou-nos por
trilhos menos frequentados, retomada na estrada que conduz ao paredão da
barragem hidroeléctrica do Caldeirão, construída numa imponente garganta da
ribeira homónima. Eram horas de reforço alimentar e os barrocos nas imediações
do miradouro do mocho real emprestaram um local apropriado.
O
caminho percorria agora uma zona onde pontificavam numerosas quintas ocupadas
por gente com feições nórdicas, pele clara e cabelos loiros, provavelmente oriundos
de territórios onde o sol e as montanhas não devem abundar, o que poderá
explicar o seu fascínio por esta e por este clima. As casas pareciam bem
arranjadas, arquitectura de bom gosto, todas com piscinas, campos aramados que
guardavam rebanhos de ovelhas e cabras. Surpresa – ou talvez não – tivemos
quando, junto a uma destas quintas, encarámos com uma estrutura de metal com
cerca de 4 metros de altura, exibindo uma figura estilizada que alguém mais
observador avançou que aquilo lhe sugeria a figura de um anjo. Avaliação
acertada, já que na aldeia de Faia foi confirmado que efectivamente naquele
local se realizava todos os anos, no início de Agosto, um grande festival de
música – e não só – apropriadamente conhecido como Festival do Anjo – se se
preferir, “angel art festival”
ao qual acorrem milhares de pessoas,
sobretudo, alemães e holandeses.
A
rota programada para Faia teve de sofrer um desvio que implicou uma volta
atrás. Junto a um enorme tanque de água onde os estrangeiros ocupantes gravaram
que “ Think like a mountain “ o caminho virava à
direita descendo para um pontão sobre a linha de água que atravessa a aldeia mas
estava barrado por um portão metálico. O autóctone que nos refrescou a goela
numa simpática tasquinha de Faia confirmaria que se trata de uma apropriação
indevida de um caminho público. A extensa rua principal de Faia apresentava
sinais claros de que em tempos terá sido uma povoação com alguma prosperidade,
sobretudo devido às numerosas casas em granito com portados quinhentistas,
muitos deles conjugando com janelas que exibiam belos rendilhados manuelinos.
O
Mondego foi transposto na velha ponte romana junto à Quinta da Ponte, rumo a
Aldeia Viçosa. No batorel de granito da taberna junto à matriz, alguns
autóctones juntaram-se-nos, curiosos. O cepticismo e ar desconfiado foi deveras
evidente nalguns deles quando lhes assegurámos que tínhamos partido de Belmonte
no dia anterior, de estupefacção mesmo, quando os informámos do nosso
desiderato de caminhar até Santiago de Compostela.
Seis
horas depois da partida, eis-nos chegados ao cruzamento para Vila Cortês do
Mondego e Porto da Carne, 14:45, fim de etapa. Será aqui, exactamente aqui, que
se iniciará a próxima.
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