Já terá sido produzida basta literatura sobre as motivações de quem se mete ao caminho. Das várias obras folheadas sobre o assunto, destaque para a tese de mestrado em Antropologia Social e Cultural de Ana Catarina Mendes "Peregrinos a Santiago de Compostela: Uma Etnografia do Caminho Português", 2009. Se houver vagar, havemos de ensaiar uma revisão mais aprofundada, quanto mais não seja para ajudar a compreender melhor as nossas próprias motivações. Sim, porque continua por encontrar a resposta definitiva: porque fizemos o caminho?
Entretanto, uma breve passagem por algumas das personagens que fomos encontrando nesta nossa "turigrinação".
De Castelo Branco a Ponte de
Lima, caminhámos “sós”: nenhum peregrino nos ultrapassou, nenhum se deixou
ultrapassar. O cenário alterou-se substancialmente a partir da vila mais antiga
de Portugal, ponto de partida para muitos, mas sobretudo local de confluência do
caminho principal e da variante do caminho interior que coincide com o camiño
Torres.
Ainda na ponte sobre o Lima, já
um casal de jovens italianos se fazia notar, “apanhados” mais à frente debruçados
sobre a Bíblia. No início do troço da Labruja, partilhámos o farnel com uma
mexicana e uma alemã que viajavam juntas. No albergue de Rubiães, demos com um
jovem venezuelano que se divertia a acompanhar cantigas anti-chavistas no telemóvel; o
francês carrancudo que decidiu passar para albergue privado, incomodado com o
barulho dos nossos duches das 16 horas; as duas jovens simpáticas de Resende,
manifestamente em dificuldades quando as reencontrámos em Valença mas
determinadas a atingir Compostela na sexta feira santa. Mais tarde, ainda em
território nacional, haveríamos de estabelecer contacto com o casal de
americanos da Virgínia que partira do Porto, com as duas simpáticas madames francesas
que nos devolveram o telemóvel perdido na floresta, com o esguio sexagenário italiano
que caminhava sozinho desde Santarém.
A partir de Tui, e se calhar
porque era Junho, o pequeno exército de peregrinos transformou-se em legião.
Dois destaques: a nossa amiga Renata, trinta e poucos, crudívora assumida. Quando a conhecemos à
entrada do albergue de Pontevedra, já exibia no curriculum o caminho francês e
o troço Compostela a Finisterra. Insatisfeita, fez-se transportar até ao Porto
para aí iniciar o caminho português. Tudo de seguida, sempre sozinha. Foi a
húngara mais valente que alguma vez encontrámos.
O segundo destaque vai para os nossos compadres latinos, extrovertidos, barulhentos, simpáticos puertoriquenhos (mas a residir na grande maçã). Um saludo especial para o volumoso peregrino, veterinário de profissão, que caminhava compassada mas destemidamente com a sua septuagenária progenitora.
O segundo destaque vai para os nossos compadres latinos, extrovertidos, barulhentos, simpáticos puertoriquenhos (mas a residir na grande maçã). Um saludo especial para o volumoso peregrino, veterinário de profissão, que caminhava compassada mas destemidamente com a sua septuagenária progenitora.
Os súbditos especiais da Casa Branca, parece que se organizaram em
vários grupos com partidas do Porriño em tempos diferentes. Ter-se-ão reunido
em Compostela e, a expensas suas, financiaram uma sessão especial de bota
fumeiro na catedral, numa terça feira. E nós assistimos, bem hajam eles pela
oportunidade, e também pelas várias Estrela Galícia com que fizeram questão de
nos brindar por diversas vezes, seguramente para compensar a nossa natural boa
disposição e simpatia.
A riqueza que se esconde nos
contactos que o caminho proporciona aumentou consideravelmente quando deparámos com as duas “torres” alemãs
que já haviam cumprido o caminho francês a puxar um funcional atrelado cada um, e que já
rumavam a sul com ideia de atingir Fátima.
Cruzámos os passos ainda com 3
polícias aposentados admiradores de Frau Merkel que, descomprometidos e folgados à
conta da reforma choruda, já tinham conquistado a categoria de veteranos na
vida e nos caminhos de Santiago.
Finalmente, já de mochila à costas para sair da praça do Obradoiro em direcção ao autocarro que nos traria para casa, eis que metemos conversa com um compatriota (exibia a bandeira nacional pendurada na mochila). Caminhara desde Orense com a esposa, a filha e o genro e... era natural da Benquerença, concelho de Penamacor, um quase patrício.
O caminho também é esta miríade de encontros, da Hungria a Penamacor, dando a volta por Porto Rico e demais longitudes.
Finalmente, já de mochila à costas para sair da praça do Obradoiro em direcção ao autocarro que nos traria para casa, eis que metemos conversa com um compatriota (exibia a bandeira nacional pendurada na mochila). Caminhara desde Orense com a esposa, a filha e o genro e... era natural da Benquerença, concelho de Penamacor, um quase patrício.
O caminho também é esta miríade de encontros, da Hungria a Penamacor, dando a volta por Porto Rico e demais longitudes.
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