Caminhantes:
Anselmo, Benvinda Monteiro, Carlos Filipe, Carlos Matos, Fernando Gaspar, João Dias, João Salvado, Joaquim Branco, José Luís Rodrigues, José Manuel Machado, Mário, Piedade Gabriel.SINOPSE:
11/04/2015, sábado
ETAPA III: Proença-a-Nova (SOTIMA) – Vila de Rei, 30 kms, em 10 horas
12/04/2015, domingo
ETAPA IV: Vila de Rei – Alviobeira, 29 kms, em 9 horas
26/04/2015, domingo
26/04/2015, domingo
ETAPA V: Alviobeira – Fátima, 46 kms, em 12 horas e 40 minutos
ACUMULADO:
Castelo Branco - Fátima: 146 kms
Concelhos: Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Proença-a-Nova, Mação, Vila de Rei, Ferreira do Zêzere, Tomar, Ourém.
Bacias hidrográficas: Ocreza, Tejo, Zêzere, Nabão
(Track completo AQUI)
Castelo Branco - Fátima: 146 kms
Concelhos: Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Proença-a-Nova, Mação, Vila de Rei, Ferreira do Zêzere, Tomar, Ourém.
Bacias hidrográficas: Ocreza, Tejo, Zêzere, Nabão
(Track completo AQUI)
ETAPA III: Proença-a-Nova (SOTIMA) – Vila de Rei
A etapa III começa em ambiente descontraído, reforçado
com os dizeres inscritos na placa colocada 200 metros à frente do cruzamento de
acesso à antiga Sotima: “Centro I.R.
Animais Errantes”. Era apontado o sentido da direita e ... foi para a direita que
virámos, embrenhando-nos no coração da região a que apropriadamente foi
atribuído o nome de Pinhal – o tal pinhal que supostamente terá sido semeado de
aeroplano como referido na crónica anterior. Havíamos de constatar, todavia,
que há quem ande empenhado em boicotar tal nome, considerando a quantidade de
eucaliptais que já se intrometeram.
Nas quase 3 horas que precisámos para atingir
Cardigos, nenhuma alma nos “incomodou”, logo a nós que gostamos de ser
incomodados. Sempre em terra batida, bordejámos os raros e pequenos lugarejos
característicos destas paragens impondo-nos a nós próprios, estoicamente, a
privação de parar em todas as capelinhas para “rezar” ao lúpulo e à cevada
fermentados. As energias gastas a subir até Cardigos foram repostas com
descanso e almoço no Café Central – há sempre um Café Central.
À distância, guiava-nos a ponta fálica da Milriça,
convencionalmente o ponto que marca o centro geodésico de Portugal, porque
sabíamos que mesmo ao lado, estava Vila de Rei. O Roteiro Turístico recolhido propunha: “
experimente dobrar simetricamente um mapa de Portugal Continental em quatro
partes: no ponto de união das dobras encontrará Vila de Rei.” Havemos de
experimentar.
Naturalmente, nunca prescindimos de seguir as ordens
do nosso estratega Xoaquim Branco que, a cada Alminhas, nos comandava em frente
marche, esquerda volver, direita volver, depois de consultar o seu apêndice
GPS. Os vestígios do gigantesco incêndio de 2003 que cinzentou quase 80% da
área florestal do concelho de Vila de Rei, ainda são perceptíveis, pese embora
a mãe natureza, na sua infinita paciência, os venha cuidadosamente apagando. Se
assim não fosse, se a mãe natureza não desse uma mãozinha, ficaria comprometido
o objectivo dos senhores autarcas que projectaram e mandaram construir a
piscina fluvial de Cardigos, um espaço agradável, seguramente refrescante no
estio.
Em Vila de Rei já nos esperavam na pensão/restaurante
com o invulgar nome “o Cobra”. Instalações de repouso e banho próximos dos
valores mínimos do intervalo de confiança. Igual classificação para o jantar.
Notas muito positivas para a sala de piso em xisto, bem decorada e boas vistas.
Mais ainda para a jovem vilaregense que nos aprovisionou sem nunca abandonar a sua
postura profissional, mesmo quando a conversa subia exageradamente de volume
e os ditos raiavam o brejeiro.
Ao final da tarde, tempo para passeio pela zona mais antiga da vila,
muito bem arranjada e limpa. Disponíveis vários museus – Geodesia, Municipal, das
Aldeias, do Fogo etc., merecendo este último a nossa inspecção mais demorada.
Recomenda-se. Os outros locais e motivos de interesse tiveram de ficar para uma
próxima oportunidade, incluindo a sala José Cardoso Pires na Biblioteca
Municipal. As ruas desertas não surpreenderam ninguém.
ETAPA IV:
Vila de Rei – Alviobeira
Era dia de feira em Vila de Rei. O povo começou a
juntar-se bem cedo e a azáfama era geral. Desjejuados em estabelecimento local,
rumámos a oeste pelo PR1 VLR também conhecido por trilho das cascatas,
direitinhos à cascata do Escalvadouro. A água da ribeira do Lavadouro é abruptamente
obrigada a cair na vertical por uma parede de cerca de 10 metros criando um efeito que é sempre bonito de se ver. A descida até à estrada
que nos levaria à ponte sobre o Zêzere, faz-se por um trilho estreito e
inclinações por vezes pronunciadas, a vegetação ameaça abraçar-nos, enfim, a
obrigar a cuidados especiais para evitar quedas e escorregadelas.
Até ao Zêzere, os ténis pisaram, coisa rara neste
projecto, cerca de 5 quilómetros de alcatrão. É um rio fabuloso, o Zêzere. Quem
o mira desde a ponte, disfarçado de albufeira, não se lembra de o imaginar na
sua forma original, rugindo viril, emproado por ter tido a paciência e a
persistência de romper por entre aqueles montes, impondo imponentes penhascos e ravinas.
Agora, à conta do enorme paredão de Castelo de Bode, o mirante delicia-se com
um relaxante espelho de água, ligeiramente sinuoso, sugestivamente renomeado de
“lago azul”. Lá em baixo, sob esse azul, escondem-se peixes de desmesurado
tamanho, indevidamente importados de outras latitudes, devoradores das espécies
autóctones, e que, uma vez, alguém mais assustadiço confundiu com um crocodilo,
dando um surpreendente motivo de reportagem ao nosso amigo Nunes Farias.
ETAPA V: Alviobeira
– Fátima
Tirada valente até Fátima. Questionado sobre quão
valente ela seria, o nosso estratega do GPS Xoaquim Branco, após muita
insistência, lá foi adiantando que podiam muito bem ser mais de 40 metros vezes
mil. Carlos Filipe, homem das Finanças, desconfiou e avisou que sobre aquele
número deveria incidir IVA. De luxo. O aparelhinho haveria de registar 46,9,
junto à capelinha das aparições.
A viagem iniciou-se em modo predominantemente
descendente até ao Nabão, com passagem pelo pontão que 2000 anos depois
construíram a jusante da ponte romana que já não passa ninguém para o outro
lado, na ribeira da Milheira. Em homenagem aos imperiais romanos que tanto nos
ensinaram, fizeram os caminhantes questão de posar sobre a velha estrutura para
a pequena objectiva assente em minúsculo espécie de tripé do Zé Manel Machado. Logo a
seguir, demos com as ruínas de uma antiga fábrica de papel à beira do Nabão,
num sítio aprazível, melhorado com um pequeno açude.
Geologicamente, já estamos no planeta do calcário. A floresta de pinhal e eucaliptal é muito menos densa, convivendo com outras espécies, a terra é mais facilitadora do trabalho humano, oferecendo-se mais fértil e aplanada. Indo de encontro às expectativas e vontade expressa dos caminhantes, Xoaquim Branco traçou um percurso, digamos, essencialmente rural, por caminhos maioritariamente de terra batida, algo diferente do caminho habitual que contempla longos trajectos em área urbana.
Na paisagem já se começa a destacar a colina do castelo de Ourém. Pese embora alguma resistência, considerando a distância já cumprida - quase 30 km - fomos discretamente encaminhados a subir ao castelo. Em boa hora. Sente-se que ali há muita história. A torre de D. Mécia espicaça a nossa imaginação fantástica, colocando-a aprisionada naqueles aposentos impedida de ser rainha de Portugal. A mesma pesquisa posterior também havia de nos dar a saber que foi daqui que o condestável bonjardino partiu para uma das vitórias maiores na nossa portugalidade, Aljubarrota.
A descida é feita pela calçada da mulher morta, decididos a rumar a Fátima sem vacilar. A aproximação é feita pelo Alto das Pinheiras com entrada na freguesia de Fátima pela N356, um troço marcado pela "calçada" natural em calcário tipicamente esburacado, ladeado por frondosa mata de arbustos onde pontifica o alecrim, emprestando um odor muito agradável.
Eis-nos no destino. Orgulhosos e com a alma cheia de novas sensações e experiências que "O CAMINHO" sempre nos oferece. Se as pudéssemos converter em valor material, seriamos umas pessoas abastadas.
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