As paragens técnicas fazem parte do plano que o nosso
estratega Joaquim Branco delineia previamente. No Caminho da Costa, para além
da beleza do trajecto através dos passadiços à beira mar, é possível, a
qualquer momento, fazer uma pausa numa esplanada quase em cima da areia. Foi
numa dessas paragens técnicas de reposição dos níveis que um simpático sénior
meteu conversa connosco.
Fez questão de nos apresentar um relatório sucinto mas muito
preciso sobre os muitos achaques de que padecia, para justificar que a sua
condição física não lhe permitia fazer o Caminho como ele bastas vezes disse
que gostaria. Com base na informação fornecida, os profissionais de saúde
presentes não tiveram dúvidas em receitar que ele deveria continuar a ficar-se
apenas por cumprimentar os peregrinos que por ali passarem.
Despediu-se com os votos habituais de Bom Caminho e foi-se
para oeste. Antes de entrar na areia, porém, deu meia volta e veio de novo junto
de nós:
- Os meus amigos são capazes de me fazerem um favor?
- Só se não pudermos de todo.
Colocou o seu ar mais sério e, na musicalidade lexical e fonética
de um verdadeiro minhoto, pegou numa moeda e apresentou o seu pedido:
- Quando chegarem a Santiago, deitem lá esta moedinha ao
Santo, para ele acabar com o caralho do Cóbide.
Estamos, pois, fiéis depositários de uma moeda de 20 cêntimos, e com o compromisso de a introduzir na caixa de esmolas da catedral de Compostela.
Obviamente, tencionamos honrar escrupulosamente esse compromisso.
A tremenda
carga simbólica do gesto do simpático sénior minhoto tocou-nos, alimentando a
nossa ligação ao Caminho. Concordámos logo ali que nos juntaríamos na sua
intenção e reforçaríamos, à nossa conta, o montante a entregar a Santiago para
ele acabar com o não sei quê do tal Cóbide.
Sem comentários:
Enviar um comentário