Etapa IX: Moimenta da Beira - Lamego
22 de setembro de 2013, domingo
Vencidas as localidades de Eira Queimada e
Várzea dos Abrunhais, a extensão do sistema montanhoso de Montemuro sobranceira
a Lamego começa a distinguir-se e, no horizonte norte, bem visível e imponente,
a “gamela emborcada” do monte Marão. O rio Balsemão recebe-nos junto à capela
da Srª dos Meninos em dia de procissão. Duas formosas septuagenárias haviam de
nos ameaçar:
Caminhantes: Benvinda Monteiro, Carlos Matos, Fernando
Gaspar, Fernando Micaelo, Guida Mendes, Anselmo, Jaime Matos, Joaquim Branco,
Luisa, Paula Marques, Sãozita Branco, Zé Manel Machado. No apoio, Piedade
e João.
Sinopse:
Inicio em
Moimenta da Beira: 06:43 horas
Distância
percorrida: 28,8 km
Tempo
total de caminhada: 08:36 horas
Tempo a
andar: 06:33 horas
Tempo
parado: 02:03 minutos
Velocidade
média: 4,4 km/h
Altitude
máxima: 842 metros (perto de Sarzedo)
Subida
acumulada: 694 metros
Descida
acumulada: 874 metros
Povoados e locais de
referência ao longo do percurso:, Moimenta da Beira, Solar dos
Guedes/Biblioteca Municipal Aquilino Ribeiro, Beira Valente, Sarzedo, Granja
Nova, Ucanha, Ponte e Torre fortificadas sobre o rio Varosa, Mosteiro de
Salzedas, Eiras Queimadas, Várzea dos Abrunhais, Lamego, Casa das Brolhas, Sé
Catedral de Lamego, Santuário da Senhora dos Remédios.
Acumulado:
Caminho: 240,2 Km
Bacias hidrográficas: Tejo, Zêzere, Mondego, Távora, Varosa, Balsemão, Douro.
Distritos: Castelo Branco, Guarda, Viseu.
Concelhos: Castelo Branco, Fundão, Covilhã, Belmonte, Manteigas,
Guarda, Celorico da Beira, Trancoso, Aguiar da Beira, Sernancelhe, Moimenta da
Beira, Tarouca, Lamego.
Fonte: GPS de Joaquim Branco
(ver track aqui)
Pernoita em Vila da Ponte, com a companhia do
som caracteristicamente sincopado de uma
discoteca vizinha. Retoma do caminho, junto à Câmara Municipal de Moimenta da
Beira rumo a Lamego. Com Aquilino, sempre ele, continuamos gastando as
sandálias por terras do demo, pisando algumas das “aldeias montesinhas que
moram nos picotos da Beira, olham a Estrela, o Caramulo, a cernelha do Douro”. Havemos
de constatar que estas terras já não são «“terras bárbaras”, situadas longe do
tumulto civilizacional». Aquilino, se o intentasse agora, teria de inventar um
malhadinhas bem diferente.
Nas cotas médias das encostas persistem os
pomares de macieiras, que os caminhantes, despudoradamente, aproveitam para
desjejuar. Percurso tranquilo até Beira Valente, iniciando-se aí a subida mais
pronunciada que nos levaria até aos 842 metros de altitude no final do caminho
agrícola Nicho-Sarzedo. Daqui até Granja Nova o caminho prossegue por trilhos
estreitos ladeados de denso mato e pouco limpos. O jardim desta localidade
ofereceu excelentes condições para o reforço gastronómico matinal. Já saturados
de maçãs, os caminhantes peregrinos atiraram-se alegremente ao branquinho, ao
tinto, ao lúpulo – alguns até á água – para empurrar empadas e pastéis, fritos
da horta, queijo, enchidos e, estrela da mesa, as lascas surripiadas à guitarra
nalguda porcina com que a Luísa nos surpreendera já no dia anterior. Foram afiadas
e experimentadas várias navalhas e sucederam-se os cortadores: mais grosso,
mais fino, a conclusão foi que estava muito bom.
Os músculos de travagem iriam aquecer para
vencer o desnível abrupto de 200 metros em cerca de 3 quilómetros até Ucanha
onde nos esperava a magnífica e imponente torre pertencente ao mosteiro de
Salzedas, na margem direita da ponte sobre o rio Varosa. É histórico um
documento régio do séc. XIV que determinava a obrigatoriedade da passagem na
ponte e o pagamento de portagem, a qual viria a ser abolida apenas nos
primeiros anos do sec. XVI. Ucanha orgulha-se também de ser a terra natal de
Leite de Vasconcelos, pioneiro e figura incontornável da linguística,
antropologia (e das associadas etnografia e etnologia) e arqueologia em Portugal.
Do outro lado do rio Varosa, a freguesia de
Gouviães marca o início de uma série de subidas e descidas que muito arreliaram
os gémeos dos caminhantes peregrinos. A paisagem começa a transfigurar-se na
cultura dominante do Douro. Depois dos soutos de Sernancelhe, dos pomares de
macieira de Moimenta, eis os primeiros sinais do Douro: vinhedos alinhados, em geral bem cuidados e carregados de uvas.
- Não vêm para a procissão da Senhora dos
Meninos? Fazem mal, porque é uma coisa muita linda, das mai lindas que cá
temos.
A hora tardia de chegada – já batidas as 3 da
tarde – e o cansaço de uma longa e acidentada tirada, não facilitaram a ronda
pelo rico e vasto património de Lamego. Todavia, ainda foi possível apreciar a
Casa das Brolhas, um edifício cuja frontaria se reveste de elementos
decorativos peculiares, e, naturalmente, a Sé Catedral (sec. XII), estabelecida
como final da etapa. Tão pouco já havia forças, vontade e tempo para atacar o
escadório do Santuário da Senhora dos Remédios. Ficámo-nos pelo almoço
alancharado à sua sombra.
Já passei pela ponte de Ucanha duas vezes, mas sempre de moto.
ResponderEliminarDizem por lá que o nome Ucanha, remete a um vocábulo que pode designar casebre ou lugar de diversão.
Boas caminhadas pelos Caminhos de Santiago