“Da nossa
casa a Santiago de Compostela”,
Etapa
XIV: Felgueiras - Guimarães
11 de Janeiro
de 2014, sábado
Caminhantes: Anselmo, Benvinda Monteiro, Carlos Matos,
Fernando Gaspar, Fernando Micaelo, Guida Mendes, Jaime Matos, Joaquim Branco,
Luisa, Paula Marques, São Branco, Zé Manel Machado. No apoio, Piedade.
Sinopse:
Inicio em
Felgueiras: 08:20 horas
Chegada a Guimarães (Praça de Santiago): 15:00
Chegada a Guimarães (Praça de Santiago): 15:00
Distância
percorrida: 21,5 km
Tempo Total 6:41;
Tempo parado 1:37;
Velocidade média 4,2 Km/h.
Povoados e locais de
referência ao longo do percurso: Felgueiras, Mosteiro do Pombeiro, Ponte do Arco, Ciclovia (Fareja-Guimarães), Guimarães.
Acumulado:
Caminho: 346,7 Km
Bacias hidrográficas: Tejo,
Zêzere, Mondego, Távora, Varosa, Douro, Tâmega, Vizela/Ave.
Distritos: Castelo Branco,
Guarda, Viseu, Vila Real, Porto, Braga.
Concelhos: Castelo Branco,
Fundão, Covilhã, Belmonte, Manteigas, Guarda, Celorico da Beira, Trancoso, Aguiar
da Beira, Sernancelhe, Moimenta da Beira, Tarouca, Lamego, Peso da Régua, Mesão
Frio, Baião, Amarante, Felgueiras, Fafe, Guimarães.
Fonte: GPS de Joaquim Branco
(ver track aqui)
A
etapa nº 14 fica marcada por uma mudança de estratégia no que toca a
deslocações e apoio: em vez dos 3 automóveis habituais, os peregrinos foram
todos em excursão num mini autocarro alugado. O apoio durante as etapas esteve igualmente assegurado com uma paragem para pequeno almoço. Feitas as contas,
fica mais barato e, claro, muito mais confortável. As despesas da viagem até
Felgueiras foram pois transferidas para o senhor condutor, facilitando a vida
aos peregrinos que se dedicaram à confraternização e, nos intervalos, a
dormitar.
A
Câmara Municipal de Felgueiras prestou-se a enquadrar o grupo. Antes do tiro de
partida às 08:20, Xquim Branco fez entrega das cadernetas que um dia havemos de
exibir aos nossos netos, como comprovativo desta nossa aventura.
O
percurso leva-nos a uma passagem pela Matriz da cidade e em seguida encaminha-nos
em direcção ao majestoso mosteiro de Santa Maria do Pombeiro, um edifício imponente que
remonta ao sec. XI, estilo românico na base, nave ampla, vários altares em
talha trabalhada e rendilhada. Consta, obviamente, da lista de monumentos
nacionais. Após a recolha do carimbo, prosseguimos para a ponte romana do Arco
que nos havia de deixar passar para a margem direita do rio Vizela. Três
centenas de metros antes, já com o som das águas do rio, nota para a casa das
Carrancas na Boavista, assim chamada por via das carantonhas que exibe na
frontaria de granito.
Duas
notas, à volta de cada margem do Vizela. Na esquerda, mesmo junto à ponte
puderam os peregrinos visitar um moinho em plena laboração, a convite do
moleiro, um rapazinho ainda novo. Nos seus tempos áureos, condicionada pela
levada ainda bem visível, a força bruta das águas do Vizela faziam rodar o
rodízio que fazia girar as mós, que moíam o grão; agora e naquele momento, era
o interruptor eléctrico na posição de ligado que fornecia a energia para o
mesmo efeito. Já na margem direita, na localidade de Serzedo, infirmou-se
finalmente a tese de que os minhotos não são gente hospitaleira. Picada pelo
nosso Zé Manel, a minhota Sra Conceição insistiu veementemente com os peregrinos
para que bebessem um portinho dos seus. Fizeram-lhe os peregrinos a vontade.
Ela havia de cantar os Reis à moda do Minho, tendo nós retribuído com as janeiras à moda da Beira
Baixa (acompanhadas com realejo e tudo). A hospitalidade, simpatia e boa disposição valeu-lhe para lhe perdoarmos que ela não soubesse e não se lembrasse de ter ouvido nunca o que era
isso da Beira Baixa, ou de uma cidade chamada Castelo Branco. A explicação do nível de ignorância, tê-la-á dado a própria quando invocou por 3 vezes o Manuel Goucha como referência para 3 temas.
Cinco
minutos à frente, pequeno almoço. Para registo histórico - e apenas para esse
efeito - aqui fica o cardápio (desta e de todas as refeições de ar livre nas
etapas XIV e XV): pastéis de bacalhau (dos verdadeiros); frango à brás; febras
palitadas com picles; azeitonas de várias qualidades e tempêros; queijos:
fresco, picante, mistura, beira baixa de ovelha à cabreira, Seia; javali no
forno; moelas; presunto: em guitarra e fatiado; chouriço; chouriça; farinheira
fumada e frita; morcela; salada de polvo; peixe frito; frango frito panado;
pastéis de carne; empadas; pão de mistura; pão centeio; bolacha do deserto;
arroz doce; bolo de cenoura com chocolate; filhós; ananaz; tangerinas; maçãs;
bica doce; pão de deus; marmelada dura e mole; bolos secos, vinhos de vários
cores e sabores, verdes e maduros mas todos autênticos néctares dionisíocos,
suminhos.
Repostos
os níveis, atacou-se a subida por Serzedo às endireituras da ciclovia que foi
instalada por cima do antigo ramal ferroviário que ligava Guimarães a Fafe. Passeio
agradável em piso alcatroado, em bom estado, nivelado, que se estende por quase uma
dezena de quilómetros, com passagem pelas antigas estações de Paço Vieira e
Mesão Frio, até à cidade berço.
O
castelo havia de ser conquistado pelo norte, sem grande resistência. Depois do
inevitável registo daguerreotípico com o nosso primeiro Afonso como testemunha,
visita ligeira, em dia de entrada livre, ao Palácio dos duques de Bragança,
onde os peregrinos beneficiaram ainda como bónus de uma breve sessão teórica sobre essa
nobre e antiga arte de treinar e cuidar falcões e outras aves de rapina na
actividade cinegética, que é como quem diz em falcoaria, ou, mais erudito, em
cetraria. Um simpático cavalheiro, braço esquerdo alçado, luva de cabedal a
proteger a mão das garras de um garboso falcão fêmea, foi respondendo a todas
as perguntas compenetrado de quem sabia do que estava a falar. Esboçou um
difícil sorriso apenas quando, questionado sobre o comportamento das aves,
informou que na sociedade dos falcões, a fêmea é que vai à caça enquanto o macho
fica de guarda.
Depois de degustado o almoço tardio nas instalações do Hostel Santiago (repetição de cardápio), a tarde foi dedicada a apreciar a zona histórica de Guimarães e a confirmar a sua harmonia arquitectónica. Uma jóia, inquestionavelmente. Naquela noite, sorte nossa, era noite de cantar os reis. Logo ali ao lado, no Largo da Oliveira, o povo saiu à rua e acorreu a ver e ouvir a dezena de grupos musicais oriundos de várias freguesias do concelho de Guimarães que cumpriram a tradição de cantar os reis. Mesmo antes de recolher, ainda houve tempo para assistir, agora na Praça de Santiago, à performance inusitada de uma bruxa a tocar violino numa varanda. Para o quadro ficar completo, só faltava o elemento moderno na noite vimaranense, e esse estava mesmo por baixo da nossa janela: rompendo corajosamente a penumbra do bar, fazia-se ouvir, forte, o rufar ritmado acompanhando o trinar destorcido das guitarras roqueiras.
Amanhã, havemos de ver Braga.
Sem comentários:
Enviar um comentário