Como é habitual, o peregrino
Carlos Matos acumula essa condição com repórter fotográfico e urban sketcher sempre que a
circunstância o inspira, o que sucede amiúde. Enquanto uns tratavam do local de
reforço alimentar correspondente ao período de almoço, e outros contavam os
arcos da ponte sobre o Lima, ele sacou do seu caderno gráfico, do seu lápis de
carvão e da sua caneta especial que pinta com qualquer coisa até com vinho
tinto verde, e sentou-se a esboçar o quadro patrimonial junto à velha ponte,
mesmo por baixo de uma bonita e florida camélia que por estas bandas é
designada por japoneira.
Como é igualmente habitual, os
seus companheiros peregrinos, brincalhões, insistem sempre em ajudar a compor o
cenário depositando algumas moedas (às vezes até notas) no chão, para dar
aquele ar moderno de artista de rua.
Dona Conceição, minhota convicta,
cordão de ouro à volta do pescoço como pertence (parece que a Sharon Stone se
andou recentemente a exibir em LA com uma réplica), 70 e alguns anos, viúva há mais
de 20, paciente de artroses várias, prótese na perna direita, aproximou-se com
a ajuda de uma muleta e veio postar-se ao lado do Matos, entre a necessidade de
descanso e a curiosidade.
Ainda antes de deitar o olho aos
rabiscos artísticos do Matos, reparou nas moedas aos seus pés e deixou escapar,
espontânea (leia-se com entoação e sotaque minhoto carregado):
- oh! qui caralho, nasce dinheiro debaixo da japoneira!Desenho: Carlos Matos
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