"Corria o ano da graça de 2015, mais concretamente o dia 24 de janeiro quando, no interlúdio de um belíssimo repasto que teve lugar na cidade da Figueira da Foz, o meu amigo Carlos Matos me informou que iria encetar em breve uma viagem de Castelo Branco até ao Santuário de N. Sra. de Fátima.
Convém neste momento referir
que de há uns anos a esta parte, este menino de quem se fala foi uma boa meia
dúzia de vezes (pelo menos) àquele local. Noutras duas ocasiões rumou a
Santiago de Compostela, uma das quais fazendo o percurso desde a porta da sua
residência até à Catedral de Santiago (cerca de 5 centenas de km!) sempre
recorrendo a uma de duas formas: a pé ou andando!! Um mero amador, portanto!!!
Ora, voltando ao repasto,
estava eu a “embalar” uma tosta cuidadosa e minuciosamente revestida com paté
de atum, quando ele me disse que iria voltar a fazer o dito percurso. Pensei
imediatamente: “peaners”.
E continuou, enquanto eu roía
mais uma azeitona, dizendo que a empreitada seria levada a cabo pelos suspeitos
do costume, quase todos digníssimos membros da Confraria dos Caminhos,
grupo constituído por vários especialistas destas andanças. Acrescentou ainda que
este ano seria algo diferente, na medida em que o percurso seria feito em mais
dias (6 contra os 3 normais), com um grupo mais reduzido (cerca de dez pessoas
contra os vinte e tais dos anos anteriores), obedecendo a uma filosofia de
autogestão, em que cada um levaria à sua conta (tradução: às costas) o material
necessário e o percurso seria pelo meio do mato. Ok, pensei eu, “traçando” um
pastelinho de bacalhau.
E termina, disparando: queres
ir? A resposta saiu pronta: Nesses moldes, porque não?
Ainda hoje desconheço a
razão, mas o certo é que nesse momento os restantes comensais presentes na mesa
suspenderam, momentaneamente é certo, a actividade degustativa e rodaram a
cabeça na nossa direcção...
Não vou maçar ninguém com os
pormenores da viagem, até porque os mesmos estão superiormente descritos pelo
Anselmo no Blog da Confraria, mas antes tecer algumas considerações pessoais
sobre a mesma.
Haverá decerto quem leia estas linhas e pense que dado o nº de dias decorridos e respectiva quilometragem, este percurso nada tem de especial. Comparando com o que normalmente é feito (3 dias: 60km, 50Km, 40Km) admito que terão a sua razão.
Haverá decerto quem leia estas linhas e pense que dado o nº de dias decorridos e respectiva quilometragem, este percurso nada tem de especial. Comparando com o que normalmente é feito (3 dias: 60km, 50Km, 40Km) admito que terão a sua razão.
No entanto, considerando que
esta foi a minha 1ª experiência nestas coisas e principalmente que, por minha
exclusiva culpa e armado em artista, não fiz qualquer tipo de preparação, o 1º
fim-de-semana (em especial o 1º dia) foi duro. Muito duro!
Quando ao fim de 15Km vi o
amigo Branco olhar para o seu GPS e dizer que estávamos quase a atingir a
metade do percurso até engoli em seco. Apercebi-me nesse momento de algo que
desconhecia: à distância anunciada pelo Branco no início da secção havia que
aplicar uma taxa de IVA.
E dadas as diferenças obtidas, isto de andar a pé deve ser considerado bem de luxo pois a taxa era alta!
E dadas as diferenças obtidas, isto de andar a pé deve ser considerado bem de luxo pois a taxa era alta!
Do almoço para a frente, cada
passo era um martírio: a subir doía-me do joelho para cima e a descer era do
joelho para baixo. Pelo menos nenhuma das partes tinha algo a apontar à outra…
Não falei (a não ser para amaldiçoar tudo e todos, sem grande critério diga-se), não apreciei a paisagem, não fiz fotografias, nada. A coisa chegou ao ponto de só não ter “dado ao slide” nesse 1º dia por vergonha, orgulho e, agora que penso nisso, por respeito pelo Carlos e restantes companheiros de luta que não mereciam tal atitude.
E em boa hora não o fiz!
Não falei (a não ser para amaldiçoar tudo e todos, sem grande critério diga-se), não apreciei a paisagem, não fiz fotografias, nada. A coisa chegou ao ponto de só não ter “dado ao slide” nesse 1º dia por vergonha, orgulho e, agora que penso nisso, por respeito pelo Carlos e restantes companheiros de luta que não mereciam tal atitude.
E em boa hora não o fiz!
Após um fantástico jantar
acompanhado de saudável convívio e uma restauradora noite de descanso (em que
nem ouvi o concerto de sopro do Matos, fiel companheiro de quarto), o 2º dia já
correu francamente melhor, a que não será de todo alheio o facto de ter
começado com um pequeno-almoço digno de campeões: pão, ovos mexidos, chouriço,
presunto e outras iguarias, com uma média fresquinha a acompanhar.
Baixa da etapa: uns ténis
Berg (comprados 2 semanas antes) que entregaram a alma ao criador no final dos
60Km. Outdoor? Certo...
Já nas restantes etapas tudo
correu sobre carris, o que me fez reflectir e admirar a extraordinária
capacidade de adaptação da máquina que é o corpo humano. Há uns meses atrás
quem é que me havia de convencer que na última etapa seria capaz de levar de
vencida os cerca de 46Km que nos separavam do final? E o certo é que foi isso
que aconteceu, sem nada mais a apontar do que o cansaço normal do esforço.
Chegados ao Santuário, a
sensação de objectivo cumprido era evidente. Mas mais evidente ainda é a
sensação de pequenez que sempre tive das poucas vezes que ali estive, não tendo
nesta ocasião sido diferente. A fé das pessoas, quer se concorde ou não com a
sua origem, é algo de extraordinariamente imenso. E ainda que da minha parte
não houvesse qualquer intuito religioso associado à viagem, foi também por
respeito a quem tem essa fé que acendi duas velas: uma por quem achei que
gostaria de o fazer; outra por quem já não o pode fazer.
Muito obrigado Anselmo, Benvinda, Carlos, Fernando, João Dias,Salvado, Branco, José Luis, José Manuel,
Mário e Piedade.
Dois agradecimentos
especiais:
Ao Matos, por me ter convidado para fazer parte deste grupo e proporcionado esta experiência feita de convívio e amizade, em que tive o privilégio de partilhar algum tempo com estas pessoas, umas conhecidas de longa data e outras que eram até então totalmente desconhecidas. Pessoas diferentes com profissões diferentes, vivências diferentes e opiniões diferentes.
Ao Matos, por me ter convidado para fazer parte deste grupo e proporcionado esta experiência feita de convívio e amizade, em que tive o privilégio de partilhar algum tempo com estas pessoas, umas conhecidas de longa data e outras que eram até então totalmente desconhecidas. Pessoas diferentes com profissões diferentes, vivências diferentes e opiniões diferentes.
Ao Branco, por toda a
dedicação na organização e logística da coisa, mesmo estando constantemente
debaixo de fogo, com ameaças verbais recorrentes e bocas de diversa ordem,
nomeadamente da minha parte. Reagiu sempre com boa disposição, embora tenha
ficado meio atrapalhado quando a meio do 1º dia lhe disse que não me voltava a
apanhar lá…
Deixo o registo das datas,
distâncias e algumas fotos que fui fazendo.
28/02/2015, Castelo Branco a
Foz do Cobrão: 33km
01/03/2015, Foz do Cobrão a Proença-a-Nova: 27km
11/04/2015, Proença-a-Nova a Vila de Rei: 28Km
12/04/2015, Vila de Rei a Alviobeira: 29Km
26/04/2015, Alviobeira ao Santuário: 46Km
Castelo
Branco, 27/04/201501/03/2015, Foz do Cobrão a Proença-a-Nova: 27km
11/04/2015, Proença-a-Nova a Vila de Rei: 28Km
12/04/2015, Vila de Rei a Alviobeira: 29Km
26/04/2015, Alviobeira ao Santuário: 46Km
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