28/02/2015, sábado
Etapa I: Castelo Branco – Foz do Cobrão, 37 kms
01/03/2015, domingo
Etapa II: Foz do Cobrão – SOTIMA (Proença-a-Nova), 22 kms
Caminhantes: Anselmo Cunha, Benvinda Monteiro, Carlos
Filipe, Carlos Matos, Fernando Gaspar, João Dias, João Salvado, Joaquim Branco,
José Luís Rodrigues, José Manuel Ferreira, Mário, Piedade Gabriel.
Primeiros passos de novo projecto: chegar a Fátima por
“outros” caminhos. Em alternativa ao trajecto habitualmente utilizado – e já
razoavelmente conhecido da maioria dos caminhantes – o nosso estratega Joaquim
Branco propôs um novo, naquele espírito de conhecer melhor o país, a nossa
região, em particular. Desta vez, as sandálias hão-de pisar território dos
concelhos de Vila Velha de Ródão, de Vila de Rei e de Ferreira do Zêzere.
À partida, ninguém levou a sério o aviso do Baratinha de que
iriamos caminhar 8 horas no primeiro dia mais 5 no segundo. Mas foi. Etapas
durinhas para os menos calejados, bonitas para todos. Ao longo dos cerca de 57
quilómetros, atravessámos meia dúzia de lugarejos, praticamente vazios, sem tabernas para molhar a palavra com os autóctones dispostos à interacção.
Em compensação, a floresta impôs-se-nos imperial
impregnando-nos de cheiros, de sons e de cores, não propriamente novos mas, vá
lá, menos sentidos, ouvidos e vistos. Deve ter-nos feito bem aos pulmões, aos
ouvidos e aos olhos. Seguramente.
Este é um território que não facilita. A intervenção humana
é por ele pouco apreciada, por isso, apresenta um declive a seguir a uma linha
de água a seguir a um declive mais pronunciado. Pela terra, semeou - de
certezinha com requintes de malvadez - exactamente o mesmo número de pedrinhas
de xisto soltas como estrelas o seu criador espalhou no céu. Enxada que ali
caia com força é faísca que salta. Em tempos, afiançaram alguns, aquele
território estava nu, vestido temporariamente com cereal, semeado numa terra
rasgada custosamente por muitas juntas de vacas; outros, ouviram dizer que
naqueles montes e vales faziam sombra poderosos carvalhos, castanheiros e sobreiros,
sacrificados ao progresso das cidades que despontavam lá para os lados do por
do sol; e que, parece que na adolescência do século passado um governante iluminado mandou um aeroplano espalhar semente de pinheiro. Imagina-se a cena, milhões de
paraquedistas a rodopiar céu abaixo estatelando-se naquelas pedrinhas soltas de
xisto. Se calhar, para se proteger do perigoso homem, aquele território
autorizou a floresta. Não contou ele, claro, que o homem continuaria perigoso e
maldoso e haveria de incendiar aquela floresta, muitas vezes, mas ele, teimoso, havia de
autorizar que a floresta renovasse. As vezes que for preciso.
A vista deleitou-se no miradouro do vale Almourão, com as
portas homónimas lá no fundo, com as escarpas pintalgadas de fungos cor de
ouro, com a extensão e magnitude do que seria – será – a albufeira do Alvito. Logo a juzante, a pequena aldeia de Foz do Cobrão, um ribeiro que desce por um vale interior da serra das talhadas e ali se entrega ao Ocreza. Não confirmámos, mas houve quem aventasse que o nome original da linha de água era mesmo Foz do Cabrão, na nossa reles opinião, um nome mais bonito e interessante na perspectiva mediática.
Entre a Foz do Cabrão, perdão, Cobrão, e as Moitas, ninguém mudou o cenário, declive, linha de água, declive, linha de água, declive - um deles ia dando cabo dos mais pesados: alguns 500 metros quase empinados. À volta, pinheiros e eucaliptos. Aos milhões. Nota para a ponte sobre a ribeira da serzedinha: rudimentar, baias em cimento armado a abanar, sobre uma ribeira de águas cristalinas cantantes. Do outro lado...declive e mato. O caminho, fizeram-no do outro lado de uma pequena elevação.
3 horas depois, Espinho Grande, o único lugarejo encontrado, já com as Moitas à vista. Almoço, e ultima tirada rodeando a pista do aeródromo, até á antiga fábrica da Sotima.
Durinhas, muito durinhas estas primeiras 2 etapas, por um território tão agreste quanto belo.
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