“Podemos não saber a razão porque fazemos o caminho, mas de
certeza que temos uma”, decretou um filósofo de mochila às costas. Entre muitas
outras, a perspectiva de encontrar gente de outras latitudes e estabelecer
conversa, foi (é) uma das mais valorizadas motivações para se fazer o caminho.
Isto é absolutamente verdade para estes peregrinos albicastrenses mas sê-lo-á
seguramente também para muitos dos que abraçam esta extraordinária aventura de
rumar a Santiago.
Não se perde uma oportunidade de interacção com qualquer um
ou qualquer uma, velho ou nova, na língua mais a jeito. A entreajuda, essa, é
uma obrigação sagrada. Um peregrino está sempre disponível para ajudar outro
peregrino. Incondicionalmente. Assim deve ter sido ao longo dos séculos, desde
que os druidas celtas se meteram a buscar o fim da terra para aí orarem ao deus
sol, continuado na cristianização do movimento desviado para Compostela,
partilhado e alimentado tanto por reis como Alfonso II ou a nossa Santa Isabel,
como pelo humilde servo da gleba actual.
Zé Manel comunga, por excesso e por defeito, de
personalidade e profissional, respectivamente, desse ancestral e verdadeiro
espírito de acudir a qualquer um que necessite.
Aconteceu que - algures entre Pontevedra e Caldas del Rey - foi chamado
a acudir a duas vistosas jovens que nele anteviram a imagem de um qualquer messias
salvador. Parece que os dentes metálicos do fecho-eclair da mochila tinham
cariado e não corriam no cursor. Parece que elas vinham pela arte e engenho de
Zé Manel na esperança que ele encaixasse adequadamente os dentes do
fecho-eclair da mochila.
Não há qualquer evidência que Zé Manel tenha entendido o que
as duas beldades pretendiam dele, considerando a rudimentaridade do seu inglês.
A verdade é que, Zé Manel, num tom entre o meloso e o provocatório, não hesitou:
- Ó meninas… eu tenho tudo o que vós precisais…
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