Desenho de Fernando Micaelo
Era Inverno.
E no Inverno
da Galiza, a chuva costuma ser um elemento típico.
Saídos de
Tui bem cedo com ideias de chegar ao albergue de Redondela a horas de não haver
problemas com apanhar leito livre, foi sobretudo a partir de O Porriño que ela,
a água, se manifestou particularmente melosa, inundando-nos constantemente a
cara de beijos picados.
Depois de
uma jornada que a chuva e o frio ajudaram a endurecer, o corpo pede repouso e
recuperação, mais ainda perante a perspectiva de dose idêntica para o dia seguinte. Às 10 da
noite (deles) a camarata estava a começar a sossegar, inclusivamente, já se
conseguia escutar um peregrino a respirar cadenciado, suavemente sonoro para se
ouvir mas ainda sem os requisitos mínimos para se classificar de ronco.
O burburinho
habitual dos movimentos de adaptação ao colchão foi reduzindo até ao quase
silêncio. Os peregrinos reviam caladinhamente
a jornada do dia, anteviam a próxima. É esse ambiente morno de calmaria que
Xoaquim precisou de quebrar para partilhar:
- Ó meninos,
está-se mesmo bem neste saco-cama.
Ninguém
contestou.
Transcorridos
não mais que 20 segundos de mudez suspensa, ele entendeu que devia reforçar a
sensação de conforto que sentia:
- Podeis
mesmo acreditar: está-se mesmo quentinho aqui…
Perante a
insistência, Daniel fez saber a sua posição:
- Pois! Eu acredito!
mas escusas de continuar a publicitar porque não me convences a ir para aí.
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