Com a sensatez que o caracteriza e define, Xaime contratou uma sopa para cada uma das duas noites que dormimos em Silleda. Para a história será secundariamente relevante que as ditas pudessem ser classificadas como tal. Na verdade, aquilo que a senhora galega nos apresentou, com toda a simpatia e boa vontade não pode, nunca por nunca, entrar na categoria de sopa, no exigente padrão português/beirão do que é um caldo. Vá lá! Poderá aceitar-se que são da família. Afastada.
A primeira consistia num caldo de água quente no qual
boiavam, em cada prato, meia dúzia de pequenos cubos de nabo, uma dezena de
pedaços de alho francês cortado grosso e três folhas de espinafre esfarripadas.
Não! Não tinha base de courgete e/ou chuchu e/ou abóbora e/ou cebola e/ou
alho e/ou cenoura e/ou batata… nada! Tão pouco foi adicionado um fio de
azeite na fervura. Só faltava estar ensossa. E estava. Ponto a favor: aconchegadinhos com ela,
o descanso nocturno parece que até foi de fracos roncos.
Na segunda noite, fomos brindados com uma espessa massa de
cenoura – simplesmente cenoura, sem absolutamente mais nada - daquelas que quase
aguenta a colher espetada. Os nossos olhos, consta, ficaram exageradamente
bonitos.
Mas o mais relevante para este instantâneo veio com o episódio do pagamento. Para evitar a taxa de levantamento no ATM, a nossa Manela pediu que lhe entregássemos a contribuição de cada um, e ela pagaria a totalidade com o seu cartão.
Já todos tínhamos abandonado o estabelecimento a caminho do
albergue quando os últimos reparam que a simpática galega fazedora de “sopas”
especiais vem apressada e ar aflito no nosso encalço. Visivelmente incomodada,
pergunta quem é que ia pagar a conta.
Rapidamente e com a argúcia de quem tem o bandulho cheio de
pasta de cenoura se dá pela mancada: desconhecendo a combinação e porque a
Manela não se lembrou de a informar, a senhora tinha debitado apenas a parte dela
na sua maquineta.