Não foi preciso muito, para se andar à procura de
informação, mochilas, calçado, sabão azul, tudo o que fazia falta para tal empreitada. E,
como o logo o assessor militar determinou, e bem: “instrução dura, guerra fácil”,
lá metemos as mochilas, a brilhar de novo, às costas, e fizemo-nos ao treino.
De Castelo Branco aos Maxiais e vir, numa canícula brutal.
Mas deu para perceber o que nos esperava. Todos estavam habituados a grandes
caminhadas a Fátima, mas sempre com carros de apoio por perto, com o peso apenas da roupa que se trás no corpo. Para Santiago seria, completamente
diferente: em autonomia. O que se levava a mais, carregava-se “no lombo” fossem bolos, roupas de noite ou desodorizantes.
Por uma série de condicionantes, só podíamos fazer quatro etapas,
de 10 a 13 de Junho de 2010: Valença-Redondela, 35 Km; Redondela-Briallos, 39
Km; Briallos-Teo, 31 Km; Teo-Santiago, 12 Km. De Castelo Branco a Valença, na
véspera dia 9, iríamos em carros, que ficariam na casa do Zeca, devisdo a um conhecimento comum. De Santiago a Valença, no regresso, usaríamos o comboio.
E assim foi. Mil e uma histórias. Logo no albergue em
Valença, a abarrotar de gente, está escrito no caderno, depois de uma noite com muitos sopranos: “pensava eu que era a
figura principal da orquestra de sopro, mas não passo de um reles amador”
Ou a história da personagem já referida, Zeca, e que levou alguns de nós, depois de deixarmos
os carros nas garagens que ele arranjou, a um Bar no mínimo muito particular. Uma inesperada
forma de começar uma peregrinação.
No caminho, logo nos confrontamos com a beleza, a
diversidade, a entreajuda, os encontros e conversas com outros peregrinos ou
locais, com a dureza por estar a chover e serem muitos quilómetros por dia, com os albergues
e as refeições, o estarmos apenas dependentes de nós. O desespero, por cansaço,
e querer-se voltar atrás e não se deixar, o não ter lugar num albergue (Teo)
por esperteza saloia de outros peregrinos e ser a protecção civil a
disponibilizar um pavilhão (e algumas das nossas peregrinas passearem-se num
carro da policia)
O carimbo de Tuy, difícil de obter, mas que mão providencial
e curiosa, encontrou numa gaveta; Porra
para Porriño; Redondela; as fabulosas
Rias; as cañas; as borregas em Briallos, onde os homens são todos uns paridos;
E o prazer de chegar a Santiago, e tal como tantos e tantos
peregrinos em 800 anos partilhar a mesma emoção. No caderno está escrito “quanta memória histórica esta catedral guarda ao longo de tantos séculos”
E agora? Agora voltamos para o ano, com mais tempo e procurar
andar, sempre que possível, apenas de manhã.
Segundo ano, 2011: Valença-Redondela; Redondela-Pontevedra;
Pontevedra-Caldas del Rey; Caldas de Rey-Teo (que não foi); Teo-Santiago
Este ano, por não ser Xacobeo, menos gente. Em Redondela,
depois de um jantar bem comido e bem bebido, e até com desmaios (o xoaquim
empregado do restaurante declarou que a Piedade devia pagar mais para compensar
o susto que pregou a quem estava no restaurante) o outro Xquim (o nosso)
preparou-se para discursar no auditório do albergue:
Temos que nos organizar e constituir uma associação, que
tenha por finalidade organizar caminhadas como esta. Ainda hoje não se sabe se foi a
qualidade do discurso, os muitos licores de hierbas, ou até os dois juntos, o
que é verdade é que todos concordamos. E ali, foi constituída a CONFRARIA DOS
CAMINHOS. Como se pode apreciar no desenho que se segue, com hora, texto, assinaturas e tudo.
Paula Marques, Joaquim Branco, Carlos Matos, Benvinda
Monteiro, Fernando Gaspar, Piedade Gabriel, Conceição Branco, Jaime Matos, José Manuel Machado.
Ficaram estes, como as mães e pais da criança.
E este dia, ficou assim registado no caderno: “grande grande
dia, um verdadeiro dia de peregrinação. Dureza, desânimo, dor, riso, boa
disposição…tudo. Quando no caminho nos questionamos o que estamos ali a fazer,
a resposta é fácil: por tudo isto. Por saber que contamos uns com os outros,
nos maus e nos bons momentos. E hoje, como seria natural, houve de tudo” Fim de
citação.
E mais um ano cheio de histórias, como as das peregrinas que
perguntam ao nosso ciclista se tinha uma navalha, ao qual ele lhes respondeu que
tinha lá tudo o que elas precisavam. Mais tarde viemos novamente a encontra-las
e caminhar algum tempo juntos. As tardes de tapas e licores em Pontevedra e
Caldas del Rey. O Domingos do Porto, peregrino
de muita conversa e que confessou ao Xquim que andava a tentar converter a
companheira de caminhada, ou a canadiense que tinha voado propositadamente de Toronto ao Porto
para fazer este caminho, ou…
Em 2012, o grupo voltou novamente à Galiza, com menos uns e
com mais outros, porque estas coisas são mesmo assim, e desta vez para fazer Santiago-Finisterra-Muxia.
Ano de muita chuva e tb muitas histórias que terão de sair de outro caderno.
E, finda esta etapa, novamente se põe a questão: e agora?
Agora? Vamos da porta da nossa casa até Santiago de Compostela. De Castelo
Branco a Santiago. 500 Km para fazer sem pressas!
Não sem, a Confraria, já devidamente escriturada no Registo e no restaurante,


passar a espalhar regularmente a boa disposição por onde existem belas caminhadas: Jarandilla de La Vera, Alpedrinha, Nisa, Porto de Vacas, Malpica, Gouveia, Fátima, ...
Fazendo jus a um dos seus (muitos) lemas: Não te limites a passar pelo caminho, deixa também que o caminho passe por ti.
Não sem, a Confraria, já devidamente escriturada no Registo e no restaurante,


passar a espalhar regularmente a boa disposição por onde existem belas caminhadas: Jarandilla de La Vera, Alpedrinha, Nisa, Porto de Vacas, Malpica, Gouveia, Fátima, ...
Fazendo jus a um dos seus (muitos) lemas: Não te limites a passar pelo caminho, deixa também que o caminho passe por ti.
Castelo Branco, Portugal. Dezembro de 2012
Bom dia.
ResponderEliminarGostava de saber se no Vosso grupo alguém tem, ou se existe tracks/GPS para BTT do caminho de Santiago a partir de Castelo Branco.
Atenciosamente.
João Rodrigues
Olá,
ResponderEliminarTambém fiz o Caminho em 2010, e gostaria de saber se me posso juntar a vós.
Vítor Amaro
Como me posso juntar á confraria? Já fiz o caminho e gostaria de saber se é possível.
ResponderEliminar