terça-feira, 3 de junho de 2025

CAMINHO FRANCÊS (3) - NOTAS DE REPORTAGEM - III

Projecto (em curso): Caminho Francês, Fase 3.

Início: León

Término: O Cebreiro

Etapas: 7

Partida: 26 de abril de 2025

Chegada: 03 de maio de 2025

Distância total: 160 km

Acumulado Caminho Francês: 640 km

Aníbal Azevedo, Anselmo Cunha, Conceição Pires, Elsa Maia, Fernando Micaelo, Gena Cabaço, Jaime Matos, Joaquim Branco, Manuela Gomes, Nulita Lourenço, Paula Marques, Raul Maia, Teresa Silva.


Notas de reportagem – III

Cepas velhas dão bom vinho



El Bierzo é uma região vitivinícola de excelência, num terroir com características próprias, que justificam o reconhecimento de "denominação de origem protegida" (DOP)[1]

Um dos pormenores logo notados por peregrino com olhar sensível a estas coisas da agricultura, é que a maioria dos vinhedos se espalham numa estrutura fundiária marcadamente de pequena dimensão, não alinhados, não aramados, sem rega gota a gota, e, o mais interessante, onde predominam as cepas velhas. Viemos a saber que a estratégia dos produtores locais foi mesmo essa: a de se manterem firmes e unidos na defesa das características identitárias das suas vinhas, não cedendo à tentação do grande negócio da escala. Concertaram-se na preservação da estrutura fundiária, nas práticas culturais ancestrais e, sobretudo, na protecção da sua principal e distintiva casta - mencía -, resistindo à sua substituição por vinhedos modernos, instalados por GPS, alinhadinhos, com rega gota a gota e com castas mais produtivas. 

Ainda bem que quiseram e souberam concertar-se nessa estratégia, porque é nela que assentam os elementos que permitem à região apresentar e rentabilizar um produto quase exclusivo, diferenciador, identitário. E, testemunhe-se aqui o que confirmámos em variadíssimas oportunidades: o vinho mencía é muito bom.

O hospitaleiro Alfredo Alvarez (Molinaseca) asseverou-nos mesmo que no Bierzo estava o melhor enólogo do mundo. Com vagar e calhando, haveriamos de aprender com ele a descortinar as qualidades exibidas nalgumas garrafas e que alguém, seguramente muito entendido, deixou escrito na internet: “o vinho de Mencía é inegavelmente uma mistura de sabores frutados; os aromas são de frutas vermelhas e negras como a cereja azeda, romã e amora, notas herbáceas de hortelã e tomilho, toque de alcaçuz preto e especiarias; a textura pode apresentar uma sensação mineral, como giz, ou um toque de cascalho; a cor é de um vermelho profundo, com nuances de violeta". Traduzindo: uma pomada!



[1] Classificação usada na UE para produtos de uma área geográfica específica, de qualidade reconhecida e comprovada.


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