terça-feira, 10 de junho de 2025

CAMINHO FRANCÊS (3) - NOTAS DE REPORTAGEM - V

Projecto (em curso): Caminho Francês, Fase 3.

Início: León

Término: O Cebreiro

Etapas: 7

Partida: 26 de abril de 2025

Chegada: 03 de maio de 2025

Distância total: 160 km

Acumulado Caminho Francês: 640 km

Aníbal Azevedo, Anselmo Cunha, Conceição Pires, Elsa Maia, Fernando Micaelo, Gena Cabaço, Jaime Matos, Joaquim Branco, Manuela Gomes, Nulita Lourenço, Paula Marques, Raul Maia, Teresa Silva.


Notas de reportagem – V

Reino de Leão


Ao longo do caminho, nesta região autónoma de Castilla y León, é rara a placa sinalizadora que não tenha o nome de “Castilla” riscado ou apagado. Os autóctones consultados confirmaram a hipótese avançada anteriormente de que tal fenómeno estará associado a uma rivalidade ancestral entre castelhanos e leoneses, e com a pretensão destes – não se conhece a representatividade estatística – em se “libertarem” de Castela enquanto região, e ser constituída a região autónoma de León, uma espécie de restauração do medieval reino de Leão, a qual incluiria as províncias de León, Zamora e Salamanca.

Não, nenhum dos defensores da ideia mencionou a restauração do reino de Alfonso VI, suserano de Leão, mas que também chegou a ser senhor da Galiza e do território do condado portucalense, o qual viria a doar, como se sabe, à sua filha ilegítima Teresa, progenitora que foi do nosso primeiro monarca. 

Aproveita-se para fazer referência a dois pormenores a propósito, que nos são próximos.

A primeira referência vai para as ruínas de Salvaleón, aqui bem perto na confluência dos rios Erges e Baságueda. O castelo que aí esteve erigido foi conquistado aos mouros pelo rei leonês Alfonso IX em 1227 e durante algum tempo, terá sido a fronteira sul do reino de Leão com o território ocupado pelos mouros. Vale uma visita.

O segundo pormenor merecedor de referência é a Fala, na mesma zona de Salvaleón, linguajar exclusivo dos pueblos raianos da Serra da Gata de Valverdi du Fresnu, Ellas e Sa Martin de Trevellu, uma mistura de português, galego e, suspeita-se, ainda com alguns resquícios do antigo leonês. Vale uma breve pesquisa e, claro, uma visita.

Provavelmente porque não se queriam deixar ficar, os castelhanos de Castilla atreveram-se a ripostar riscando León. Não nascerá daqui nenhuma guerra, seguramente, mas tem de se relevar o esforço pela persistência identitária.


Sem comentários:

Enviar um comentário