sexta-feira, 26 de abril de 2013

Diário de caminhada: Etapa V, Fernão Joanes – Vila Cortês do Mondego


“Da nossa casa a Santiago de Compostela”,
Etapa V: Fernão Joanes – Vila Cortês do Mondego
14 de Abril de 2013, domingo

Sinopse:
Distância percorrida: 20,8 km
Tempo total de caminhada: 6:15 horas
Tempo em movimento: 4:49 horas
Tempo parado: 1:26 horas
Velocidade média: 4,4 km/h
Sítios e povoados no percurso: Fernão Joanes, Meios, Trinta, Barragem do Caldeirão, Miradouro do Mocho Real, Faia, Aldeia Viçosa.

Fonte: GPS do Joaquim Branco
(ver track aqui)

O caminho é retomado em Fernão Joanes por volta das 08:30 de domingo, 14 do quatro. O corpo está recomposto e fresco como a primaveril manhã, disponível para aceitar mais umas horas de caminhada; o espírito, esse, reflectia-se nas animadas conversas.

Nos Meios, o povo ia-se juntando no pequeno adro da matriz para a missa das nove. À semelhança de tantas outras aldeias, só se viam a chegar para o serviço religioso figuras de perfil ligeiramente curvado e andar lento por via das artroses. À pergunta brincalhona do Zé Manel: “então o caminho para Santiago de Compostela é por aqui?” a informação veio honesta: “não! olhe que têm de ir à Guarda”.

A freguesia de Trinta espraia-se por uma extensa encosta e terá sido uma aldeia próspera com inúmeras unidades na área do têxtil, designadamente, fiação de lãs e produção de xailes, cobertores, mantas. O estado em que se encontravam alguns edifícios indiciavam que esses tempos de prosperidade já pertencem ao passado que terá tido início, eventualmente, em 1896 quando a aldeia de Trinta teve o privilégio de ser uma das primeiras terras do país a dispor de energia eléctrica.


O percurso fazia-se agora com todos os santos a ajudar já a dar vistas para a albufeira do Caldeirão. Alguns imprevistos na rota programada levou-nos por trilhos menos frequentados, retomada na estrada que conduz ao paredão da barragem hidroeléctrica do Caldeirão, construída numa imponente garganta da ribeira homónima. Eram horas de reforço alimentar e os barrocos nas imediações do miradouro do mocho real emprestaram um local apropriado.





O caminho percorria agora uma zona onde pontificavam numerosas quintas ocupadas por gente com feições nórdicas, pele clara e cabelos loiros, provavelmente oriundos de territórios onde o sol e as montanhas não devem abundar, o que poderá explicar o seu fascínio por esta e por este clima. As casas pareciam bem arranjadas, arquitectura de bom gosto, todas com piscinas, campos aramados que guardavam rebanhos de ovelhas e cabras. Surpresa – ou talvez não – tivemos quando, junto a uma destas quintas, encarámos com uma estrutura de metal com cerca de 4 metros de altura, exibindo uma figura estilizada que alguém mais observador avançou que aquilo lhe sugeria a figura de um anjo. Avaliação acertada, já que na aldeia de Faia foi confirmado que efectivamente naquele local se realizava todos os anos, no início de Agosto, um grande festival de música – e não só – apropriadamente conhecido como Festival do Anjo – se se preferir, “angel art festival ao qual acorrem milhares de pessoas, sobretudo, alemães e holandeses.

A rota programada para Faia teve de sofrer um desvio que implicou uma volta atrás. Junto a um enorme tanque de água onde os estrangeiros ocupantes gravaram que “ Think like a mountain “ o caminho virava à direita descendo para um pontão sobre a linha de água que atravessa a aldeia mas estava barrado por um portão metálico. O autóctone que nos refrescou a goela numa simpática tasquinha de Faia confirmaria que se trata de uma apropriação indevida de um caminho público. A extensa rua principal de Faia apresentava sinais claros de que em tempos terá sido uma povoação com alguma prosperidade, sobretudo devido às numerosas casas em granito com portados quinhentistas, muitos deles conjugando com janelas que exibiam belos rendilhados manuelinos.


O Mondego foi transposto na velha ponte romana junto à Quinta da Ponte, rumo a Aldeia Viçosa. No batorel de granito da taberna junto à matriz, alguns autóctones juntaram-se-nos, curiosos. O cepticismo e ar desconfiado foi deveras evidente nalguns deles quando lhes assegurámos que tínhamos partido de Belmonte no dia anterior, de estupefacção mesmo, quando os informámos do nosso desiderato de caminhar até Santiago de Compostela.

Seis horas depois da partida, eis-nos chegados ao cruzamento para Vila Cortês do Mondego e Porto da Carne, 14:45, fim de etapa. Será aqui, exactamente aqui, que se iniciará a próxima.





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