segunda-feira, 18 de setembro de 2023

INSTANTÂNEOS XXIII

 


É mais ou menos universal: quando se pretende uma fotografia de grupo com toda a gente sorridente combina-se que todos sejam apanhados a “dizer” cheese, whisky, batata, pepsi, enfim, qualquer esgar da boca que a máquina capte como expressão de felicidade.

Em Agés, pequena aldeia com 25 residentes habituais, uma igreja datada de 1492 mandada construir pelos reis católicos Fernando e Isabel, um albergue e 3 restaurantes, quisemos registar com uma foto de grupo a simpatia de Doña Amapolla e seu marido António.

Quando abordada sobre a eventualidade de nos fornecer o jantar, Amapolla revelou-se o estereotipo daquela personalidade que junta alegria, simpatia, extroversão, vitalidade, energia, liderança (que o diga António, pobre António), e, sem papas na língua, informou convicta:

- Aquí podéis comer comida casera, productos naturales, yo misma la cocino, y quiero trataros divinamente; pero si quieres comer mierda, puedes ir a otro lado.

Os argumentos, pessoais e gastronómicos, pareceram-nos imbatíveis. Aceitámos. E fizemos bem, porque acabámos por degustar uma das melhores refeições naqueles 13 dias que já levávamos de Camino. É verdade que, de primero, a sua receita casera da “sopa” de legumes incluía uma dose generosa de pimentón de la vera que lhe conferia uma travo algo picante, mas, era uma sopa honesta. De segundo, estava tudo igualmente muito saboroso.

De maneiras que, na manhã seguinte, depois do desayuno que também ela nos forneceu, e imediatamente antes de partirmos para a última etapa que nos levaria à catedral de Burgos, foi o simpático e prestável casalinho convidado a registar o daguerreotipo para memória futura. 

E, claro, ela não abdicou de comandar a cena.

Sem nos avisar, em vez do habitual cheese ou patata:

- Todos conmigo ahora: CLITORIS.

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