sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Diário de Caminhada - ETAPA IX: Moimenta da Beira - Lamego

“Da nossa casa a Santiago de Compostela”,

Etapa IX: Moimenta da Beira - Lamego
22 de setembro de 2013, domingo


Caminhantes: Benvinda Monteiro, Carlos Matos, Fernando Gaspar, Fernando Micaelo, Guida Mendes, Anselmo, Jaime Matos, Joaquim Branco, Luisa, Paula Marques, Sãozita Branco, Zé Manel Machado. No apoio, Piedade e João.

Sinopse:

Inicio em Moimenta da Beira: 06:43 horas
Distância percorrida: 28,8 km
Tempo total de caminhada: 08:36 horas
Tempo a andar: 06:33 horas
Tempo parado: 02:03 minutos
Velocidade média: 4,4 km/h
Altitude máxima: 842 metros (perto de Sarzedo)
Subida acumulada: 694 metros
Descida acumulada: 874 metros

Povoados e locais de referência ao longo do percurso:, Moimenta da Beira, Solar dos Guedes/Biblioteca Municipal Aquilino Ribeiro, Beira Valente, Sarzedo, Granja Nova, Ucanha, Ponte e Torre fortificadas sobre o rio Varosa, Mosteiro de Salzedas, Eiras Queimadas, Várzea dos Abrunhais, Lamego, Casa das Brolhas, Sé Catedral de Lamego, Santuário da Senhora dos Remédios.

Acumulado:
Caminho: 240,2 Km
Bacias hidrográficas: Tejo, Zêzere, Mondego, Távora, Varosa, Balsemão, Douro.
Distritos: Castelo Branco, Guarda, Viseu.
Concelhos: Castelo Branco, Fundão, Covilhã, Belmonte, Manteigas, Guarda, Celorico da Beira, Trancoso, Aguiar da Beira, Sernancelhe, Moimenta da Beira, Tarouca, Lamego. 

Fonte: GPS de Joaquim Branco
(ver track aqui)

Pernoita em Vila da Ponte, com a companhia do som caracteristicamente  sincopado de uma discoteca vizinha. Retoma do caminho, junto à Câmara Municipal de Moimenta da Beira rumo a Lamego. Com Aquilino, sempre ele, continuamos gastando as sandálias por terras do demo, pisando algumas das “aldeias montesinhas que moram nos picotos da Beira, olham a Estrela, o Caramulo, a cernelha do Douro”. Havemos de constatar que estas terras já não são «“terras bárbaras”, situadas longe do tumulto civilizacional». Aquilino, se o intentasse agora, teria de inventar um malhadinhas bem diferente.







Nas cotas médias das encostas persistem os pomares de macieiras, que os caminhantes, despudoradamente, aproveitam para desjejuar. Percurso tranquilo até Beira Valente, iniciando-se aí a subida mais pronunciada que nos levaria até aos 842 metros de altitude no final do caminho agrícola Nicho-Sarzedo. Daqui até Granja Nova o caminho prossegue por trilhos estreitos ladeados de denso mato e pouco limpos. O jardim desta localidade ofereceu excelentes condições para o reforço gastronómico matinal. Já saturados de maçãs, os caminhantes peregrinos atiraram-se alegremente ao branquinho, ao tinto, ao lúpulo – alguns até á água – para empurrar empadas e pastéis, fritos da horta, queijo, enchidos e, estrela da mesa, as lascas surripiadas à guitarra nalguda porcina com que a Luísa nos surpreendera já no dia anterior. Foram afiadas e experimentadas várias navalhas e sucederam-se os cortadores: mais grosso, mais fino, a conclusão foi que estava muito bom.





Os músculos de travagem iriam aquecer para vencer o desnível abrupto de 200 metros em cerca de 3 quilómetros até Ucanha onde nos esperava a magnífica e imponente torre pertencente ao mosteiro de Salzedas, na margem direita da ponte sobre o rio Varosa. É histórico um documento régio do séc. XIV que determinava a obrigatoriedade da passagem na ponte e o pagamento de portagem, a qual viria a ser abolida apenas nos primeiros anos do sec. XVI. Ucanha orgulha-se também de ser a terra natal de Leite de Vasconcelos, pioneiro e figura incontornável da linguística, antropologia (e das associadas etnografia e etnologia) e arqueologia em Portugal.

Do outro lado do rio Varosa, a freguesia de Gouviães marca o início de uma série de subidas e descidas que muito arreliaram os gémeos dos caminhantes peregrinos. A paisagem começa a transfigurar-se na cultura dominante do Douro. Depois dos soutos de Sernancelhe, dos pomares de macieira de Moimenta, eis os primeiros sinais do Douro: vinhedos alinhados,  em geral bem cuidados e carregados de uvas.



Vencidas as localidades de Eira Queimada e Várzea dos Abrunhais, a extensão do sistema montanhoso de Montemuro sobranceira a Lamego começa a distinguir-se e, no horizonte norte, bem visível e imponente, a “gamela emborcada” do monte Marão. O rio Balsemão recebe-nos junto à capela da Srª dos Meninos em dia de procissão. Duas formosas septuagenárias haviam de nos ameaçar:
- Não vêm para a procissão da Senhora dos Meninos? Fazem mal, porque é uma coisa muita linda, das mai lindas que cá temos.



A hora tardia de chegada – já batidas as 3 da tarde – e o cansaço de uma longa e acidentada tirada, não facilitaram a ronda pelo rico e vasto património de Lamego. Todavia, ainda foi possível apreciar a Casa das Brolhas, um edifício cuja frontaria se reveste de elementos decorativos peculiares, e, naturalmente, a Sé Catedral (sec. XII), estabelecida como final da etapa. Tão pouco já havia forças, vontade e tempo para atacar o escadório do Santuário da Senhora dos Remédios. Ficámo-nos pelo almoço alancharado à sua sombra.

1 comentário:

  1. Já passei pela ponte de Ucanha duas vezes, mas sempre de moto.
    Dizem por lá que o nome Ucanha, remete a um vocábulo que pode designar casebre ou lugar de diversão.
    Boas caminhadas pelos Caminhos de Santiago

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