sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Diário de Caminhada - ETAPA VIII: Ponte do Abade - Moimenta da Beira

“Da nossa casa a Santiago de Compostela”,

Etapa VIII: Ponte do Abade - Moimenta da Beira
21 de setembro de 2013, sábado


Caminhantes: Benvinda Monteiro, Carlos Matos, Fernando Gaspar, Fernando Micaelo, Guida Mendes, Anselmo, Jaime Matos, Joaquim Branco, Luisa, Paula Marques, Sãozita Branco, Zé Manel Machado. No apoio, Piedade e João.

Sinopse:

Inicio em Ponte do Abade: 06:25 horas
Distância percorrida: 27,2 km
Tempo total de caminhada: 07:58 horas
Tempo a andar: 06:28 horas
Tempo parado: 01:30 horas
Velocidade média: 4,3 km/h
Altitude máxima: 763 metros aos 6,5 Km (Srª das Necessidades)
Subida acumulada: 594 metros
Descida acumulada: 528 metros

Acumulado:
Caminho: 212,2 Km

Povoados e locais de referência ao longo do percurso: Ponte do Abade, Sernancelhe, Pelourinho e Igreja Matriz, Solar dos Carvalhos, Casa da Comenda de Malta, Vila da Ponte, Santuário de Nossa Senhora das Necessidades, Capela de Santa Águeda, Penso, A de Barros, Solar dos Noronhas, Capela de Barros, Prados de Baixo, Prados de Cima, Rua, Pelourinho e Vivenda Coelho, Arcozelo da Torre, Arcozelo do Cabo, Moimenta da Beira.
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Fonte: GPS de Joaquim Branco
(ver track aqui)


Golpe a golpe, passo a passo, etapa a etapa, o caminho vai-se fazendo. À medida que se avança é preciso atrasar a hora da partida na origem, por forma a chegar ao local de início da etapa a horas adequadas. A etapa VIII, como todas as outras, começa à porta de casa. E o relógio da torre da nossa casa marcava as 04:30 quando 3 suspeitas viaturas albergando catorze suspeitos caminhantes rasgaram as trevas albicastrenses e rumaram a norte.

A temperatura amena a sul da Gardunha – 22º lidos pelo termómetro da viatura do Mikey – foi baixando à medida que descíamos a latitude. Às 06:25, em Ponte do Abade, o mesmo termómetro exibia … 7º. E foi com esse fresquinho que nos fizemos ao caminho, guiados pelas setas amarelas que os nossos amigos salamantinos foram pintando guiados pelo pioneiro Torres, confirmado, sempre, à cautela, com o percurso calculado pelo Xquim Branco.

O rio Távora continuava na nossa companhia, lá em baixo, bem definido pelo arvoredo mais frondoso das suas margens e pelas baixas de aluvião, onde já se notava alguma mobilização de terras para as sementeiras de Inverno. As primeiras sessenta centenas de metros, até Sernancelhe foram quase sempre a contrariar a gravidade. A paisagem é marcada por inúmeros soutos de castanheiros (passe a redundância) ou não fosse a castanha uma das duas principais imagens de marca de Sernancelhe. A outra, partilhada pelo vizinho concelho de Moimenta da Beira, tem Aquilino como referência maior, à pala de uma das suas obras mais conhecidas: Terras do Demo.

Nesta etapa, e na de amanhã, vamos andar, pois, em terras onde, assegurou o mestre Aquilino, Cristo seguramente não gastou as sandálias, passou el-rei a caçar, ou os apóstolos da Igualdade em propaganda, e havemos de aproveitar a sombra de frondosos castanheiros. Um deles, seguramente velhinho de séculos, impôs-se-nos pelo diâmetro do seu tronco: foram precisos oito caminhantes peregrinos para o abraçar. A Vila de Sernancelhe estende-se no topo de uma colina rodeada dos ditos soutos, uns muito bem tratados em terrenos trabalhosamente lavrados, outros menos bem cuidados mas sempre vistosos, todos já com os ouriços com bom desenvolvimento vegetativo, disponíveis para a apanha que se iniciará dentro de cerca de 1 mês.




À entrada, fomos solenemente recebidos pela “carriça” - atrelada a uma carroça - uma burranca de pelo acastanhado, lustroso, mansinha, com sinais evidentes de ser bem tratada por um simpático casal de velhotes a caminho da horta. Sernancelhe exibiu-se-nos limpa, cuidada, e com um património arquitectónico invejável. Não houve tempo para subir ao castelo medieval, compensando com breves paragens para apreciar a imponência do solar dos Carvalhos, especular sobre a origem e papel da Casa da Comenda de Malta e, principalmente, deleitar-nos com a ambiência medieval do adro da Igreja de S. João Batista, edificada no sec.XII, onde se destaca igualmente um bonito pelourinho manuelino.

O trilho leva-nos agora a descer novamente até ao rio Távora, atravessado, apropriadamente, em Vila da Ponte, localidade bafejada com um amplo e tranquilizante espelho de água, mesmo no final da albufeira da barragem do Vilar alguns quilómetros a jusante. O santuário da Senhora das Necessidades impõe-se no monte sobranceiro, a que se chega por uma calçada pronunciada. Meio milhar de metros antes, porém, as setas amarelas mandam seguir para a direita, em direcção à capela de Santa Águeda e à aldeia de Penso. A partir daqui, o caminho perde algum interesse porque é feito sobretudo em estrada, cruzando as aldeias de Prados de Baixo e Cima, Rua, Arcozelos, compensado todavia, por algumas edificações dignas de admiração e registo. É o caso do solar dos Noronhas, onde o nosso D. Dinis terá passado algumas noites, quiçá na agradável companhia da sua e nossa Santa Isabel, a capela de Barros e o magnífico pelourinho em frente à Vivenda Coelho na aldeia de Rua. A parte final do percurso, a partir de Arcozelo do Cabo é feita novamente em caminho sinuoso e pronunciado até à Vila de Moimenta da Beira.






Se Sernancelhe é terra da castanha, Moimenta é terra da maçã. Beneficiando de condições edafo-climáticas favoráveis, o caminhante peregrino vê-se rodeado por inúmeros pomares, nesta altura do ano prenhes de maçãs de muitas variedades, cores e tamanhos. O caminhante peregrino, desculpado com tanta fartura, ousava ir mordiscando livremente a espaços, dando-se ao luxo de escolher a variedade, a cor e o tamanho. Moimenta organizava neste fim de semana a EXPODEMO, uma feira que junta, provavelmente, as suas duas maiores e incontornáveis referências: maçãs e Aquilino. É numa freguesia do concelho de Moimenta da Beira – Soutosa - que se situa a Fundação Aquilino Ribeiro, figura maior da literatura portuguesa que nasceu nestas terras – numa aldeia do concelho vizinho de Sernancelhe, a qual ele usa bastas vezes como cenários das suas obras, aprimorando um léxico único, carregado de deliciosos provincianismos. Pretexto bastante para regressarmos a ele, no intervalo entre etapas.




À noite, antes de tocar a recolher, a EXPODEMO ofereceu a musica de um simpático grupo de concertinas, nós retribuímos com boa disposição, palmas e até algumas cantorias. Amanhã, continuaremos em terras do demo, rumo a Lamego.

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