segunda-feira, 6 de abril de 2015

FÁTIMA POR OUTROS CAMINHOS - 2015 - ETAPAS I e II

28/02/2015, sábado
Etapa I: Castelo Branco – Foz do Cobrão, 37 kms
01/03/2015, domingo
Etapa II: Foz do Cobrão – SOTIMA (Proença-a-Nova), 22 kms

Caminhantes: Anselmo Cunha, Benvinda Monteiro, Carlos Filipe, Carlos Matos, Fernando Gaspar, João Dias, João Salvado, Joaquim Branco, José Luís Rodrigues, José Manuel Ferreira, Mário, Piedade Gabriel.

Primeiros passos de novo projecto: chegar a Fátima por “outros” caminhos. Em alternativa ao trajecto habitualmente utilizado – e já razoavelmente conhecido da maioria dos caminhantes – o nosso estratega Joaquim Branco propôs um novo, naquele espírito de conhecer melhor o país, a nossa região, em particular. Desta vez, as sandálias hão-de pisar território dos concelhos de Vila Velha de Ródão, de Vila de Rei e de Ferreira do Zêzere.

À partida, ninguém levou a sério o aviso do Baratinha de que iriamos caminhar 8 horas no primeiro dia mais 5 no segundo. Mas foi. Etapas durinhas para os menos calejados, bonitas para todos. Ao longo dos cerca de 57 quilómetros, atravessámos meia dúzia de lugarejos, praticamente vazios, sem tabernas para molhar a palavra com os autóctones dispostos à interacção.

Em compensação, a floresta impôs-se-nos imperial impregnando-nos de cheiros, de sons e de cores, não propriamente novos mas, vá lá, menos sentidos, ouvidos e vistos. Deve ter-nos feito bem aos pulmões, aos ouvidos e aos olhos. Seguramente.

Este é um território que não facilita. A intervenção humana é por ele pouco apreciada, por isso, apresenta um declive a seguir a uma linha de água a seguir a um declive mais pronunciado. Pela terra, semeou - de certezinha com requintes de malvadez - exactamente o mesmo número de pedrinhas de xisto soltas como estrelas o seu criador espalhou no céu. Enxada que ali caia com força é faísca que salta. Em tempos, afiançaram alguns, aquele território estava nu, vestido temporariamente com cereal, semeado numa terra rasgada custosamente por muitas juntas de vacas; outros, ouviram dizer que naqueles montes e vales faziam sombra poderosos carvalhos, castanheiros e sobreiros, sacrificados ao progresso das cidades que despontavam lá para os lados do por do sol; e que, parece que na adolescência do século passado um governante iluminado mandou um aeroplano espalhar semente de pinheiro. Imagina-se a cena, milhões de paraquedistas a rodopiar céu abaixo estatelando-se naquelas pedrinhas soltas de xisto. Se calhar, para se proteger do perigoso homem, aquele território autorizou a floresta. Não contou ele, claro, que o homem continuaria perigoso e maldoso e haveria de incendiar aquela floresta, muitas vezes, mas ele, teimoso, havia de autorizar que a floresta renovasse. As vezes que for preciso.


A vista deleitou-se no miradouro do vale Almourão, com as portas homónimas lá no fundo, com as escarpas pintalgadas de fungos cor de ouro, com a extensão e magnitude do que seria – será – a albufeira do Alvito. Logo a juzante, a pequena aldeia de Foz do Cobrão, um ribeiro que desce por um vale interior da serra das talhadas e ali se entrega ao Ocreza. Não confirmámos, mas houve quem aventasse que o nome original da linha de água era mesmo Foz do Cabrão, na nossa reles opinião, um nome mais bonito e interessante na perspectiva mediática.

Entre a Foz do Cabrão, perdão, Cobrão, e as Moitas, ninguém mudou o cenário, declive, linha de água, declive, linha de água, declive - um deles ia dando cabo dos mais pesados: alguns 500 metros quase empinados. À volta, pinheiros e eucaliptos. Aos milhões. Nota para a ponte sobre a ribeira da serzedinha: rudimentar, baias em cimento armado a abanar, sobre uma ribeira de águas cristalinas cantantes. Do outro lado...declive e mato. O caminho, fizeram-no do outro lado de uma pequena elevação.



3 horas depois, Espinho Grande, o único lugarejo encontrado, já com as Moitas à vista. Almoço, e ultima tirada rodeando a pista do aeródromo, até á antiga fábrica da Sotima.

Durinhas, muito durinhas estas primeiras 2 etapas, por um território tão agreste quanto belo.

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