quinta-feira, 30 de abril de 2015

FÁTIMA POR OUTROS CAMINHOS - 2015 - CARLOS FILIPE

A nossa mais recente aquisição - CARLOS FILIPE - brindou-nos com este belíssimo texto:

"Corria o ano da graça de 2015, mais concretamente o dia 24 de janeiro quando, no interlúdio de um belíssimo repasto que teve lugar na cidade da Figueira da Foz, o meu amigo Carlos Matos me informou que iria encetar em breve uma viagem de Castelo Branco até ao Santuário de N. Sra. de Fátima.
Convém neste momento referir que de há uns anos a esta parte, este menino de quem se fala foi uma boa meia dúzia de vezes (pelo menos) àquele local. Noutras duas ocasiões rumou a Santiago de Compostela, uma das quais fazendo o percurso desde a porta da sua residência até à Catedral de Santiago (cerca de 5 centenas de km!) sempre recorrendo a uma de duas formas: a pé ou andando!! Um mero amador, portanto!!!
Ora, voltando ao repasto, estava eu a “embalar” uma tosta cuidadosa e minuciosamente revestida com paté de atum, quando ele me disse que iria voltar a fazer o dito percurso. Pensei imediatamente: “peaners”.
E continuou, enquanto eu roía mais uma azeitona, dizendo que a empreitada seria levada a cabo pelos suspeitos do costume, quase todos digníssimos membros da Confraria dos Caminhos, grupo constituído por vários especialistas destas andanças. Acrescentou ainda que este ano seria algo diferente, na medida em que o percurso seria feito em mais dias (6 contra os 3 normais), com um grupo mais reduzido (cerca de dez pessoas contra os vinte e tais dos anos anteriores), obedecendo a uma filosofia de autogestão, em que cada um levaria à sua conta (tradução: às costas) o material necessário e o percurso seria pelo meio do mato. Ok, pensei eu, “traçando” um pastelinho de bacalhau.
E termina, disparando: queres ir? A resposta saiu pronta: Nesses moldes, porque não?
Ainda hoje desconheço a razão, mas o certo é que nesse momento os restantes comensais presentes na mesa suspenderam, momentaneamente é certo, a actividade degustativa e rodaram a cabeça na nossa direcção...
Não vou maçar ninguém com os pormenores da viagem, até porque os mesmos estão superiormente descritos pelo Anselmo no Blog da Confraria, mas antes tecer algumas considerações pessoais sobre a mesma.
Haverá decerto quem leia estas linhas e pense que dado o nº de dias decorridos e respectiva quilometragem, este percurso nada tem de especial. Comparando com o que normalmente é feito (3 dias: 60km, 50Km, 40Km) admito que terão a sua razão.
No entanto, considerando que esta foi a minha 1ª experiência nestas coisas e principalmente que, por minha exclusiva culpa e armado em artista, não fiz qualquer tipo de preparação, o 1º fim-de-semana (em especial o 1º dia) foi duro. Muito duro!
Quando ao fim de 15Km vi o amigo Branco olhar para o seu GPS e dizer que estávamos quase a atingir a metade do percurso até engoli em seco. Apercebi-me nesse momento de algo que desconhecia: à distância anunciada pelo Branco no início da secção havia que aplicar uma taxa de IVA. 
E dadas as diferenças obtidas, isto de andar a pé deve ser considerado bem de luxo pois a taxa era alta!
Do almoço para a frente, cada passo era um martírio: a subir doía-me do joelho para cima e a descer era do joelho para baixo. Pelo menos nenhuma das partes tinha algo a apontar à outra…
Não falei (a não ser para amaldiçoar tudo e todos, sem grande critério diga-se), não apreciei a paisagem, não fiz fotografias, nada. A coisa chegou ao ponto de só não ter “dado ao slide” nesse 1º dia por vergonha, orgulho e, agora que penso nisso, por respeito pelo Carlos e restantes companheiros de luta que não mereciam tal atitude. 
E em boa hora não o fiz!
Após um fantástico jantar acompanhado de saudável convívio e uma restauradora noite de descanso (em que nem ouvi o concerto de sopro do Matos, fiel companheiro de quarto), o 2º dia já correu francamente melhor, a que não será de todo alheio o facto de ter começado com um pequeno-almoço digno de campeões: pão, ovos mexidos, chouriço, presunto e outras iguarias, com uma média fresquinha a acompanhar.
Baixa da etapa: uns ténis Berg (comprados 2 semanas antes) que entregaram a alma ao criador no final dos 60Km. Outdoor? Certo...
Já nas restantes etapas tudo correu sobre carris, o que me fez reflectir e admirar a extraordinária capacidade de adaptação da máquina que é o corpo humano. Há uns meses atrás quem é que me havia de convencer que na última etapa seria capaz de levar de vencida os cerca de 46Km que nos separavam do final? E o certo é que foi isso que aconteceu, sem nada mais a apontar do que o cansaço normal do esforço.
Chegados ao Santuário, a sensação de objectivo cumprido era evidente. Mas mais evidente ainda é a sensação de pequenez que sempre tive das poucas vezes que ali estive, não tendo nesta ocasião sido diferente. A fé das pessoas, quer se concorde ou não com a sua origem, é algo de extraordinariamente imenso. E ainda que da minha parte não houvesse qualquer intuito religioso associado à viagem, foi também por respeito a quem tem essa fé que acendi duas velas: uma por quem achei que gostaria de o fazer; outra por quem já não o pode fazer.
Muito obrigado Anselmo, Benvinda, Carlos, Fernando, João Dias,Salvado, Branco, José Luis, José Manuel, Mário e Piedade.
Dois agradecimentos especiais:
Ao Matos, por me ter convidado para fazer parte deste grupo e proporcionado esta experiência feita de convívio e amizade, em que tive o privilégio de partilhar algum tempo com estas pessoas, umas conhecidas de longa data e outras que eram até então totalmente desconhecidas. Pessoas diferentes com profissões diferentes, vivências diferentes e opiniões diferentes.
Ao Branco, por toda a dedicação na organização e logística da coisa, mesmo estando constantemente debaixo de fogo, com ameaças verbais recorrentes e bocas de diversa ordem, nomeadamente da minha parte. Reagiu sempre com boa disposição, embora tenha ficado meio atrapalhado quando a meio do 1º dia lhe disse que não me voltava a apanhar lá… 
Deixo o registo das datas, distâncias e algumas fotos que fui fazendo.
28/02/2015, Castelo Branco a Foz do Cobrão: 33km
01/03/2015, Foz do Cobrão a Proença-a-Nova: 27km
11/04/2015, Proença-a-Nova a Vila de Rei: 28Km
12/04/2015, Vila de Rei a Alviobeira: 29Km
26/04/2015, Alviobeira ao Santuário: 46Km
Castelo Branco, 27/04/2015













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