A função de hospitaleiro é discreta mas,
essencial, para o acolhimento que o peregrino espera e precisa, depois de uma
jornada que pode ter sido desgastante. Seja em albergue público ou privado, o
hospitaleiro tem de estar preparado para tudo e para todo o tipo de peregrinos[1].
Um dia, um estudioso destas áreas haverá de por-se ao caminho e, com tempo e método, arranjará forma de ficar à conversa com os hospitaleiros dos albergues – serão centenas – e deles recolherá histórias, muitas histórias, e depois selecionará as mais interessantes de acordo com o modelo de análise que construir e com elas escreverá uma tese de doutoramento ou, mesmo um livro. Seguramente, colecionará muitas histórias alegres, algumas cómicas, muitas outras tristes, bastas delas de sofrimento.
Quando o estudioso chegar ao albergue Leo em Vila Franca del Bierzo e se puser à conversa com a hospitaleira Maria, ouvirá, seguramente, o episódio em que entra Javier, o peregrino mexicano que no início de maio de 2025 se manteve alguns dias ali hospedado, sem vontade de continuar o caminho, porque, aconteceu-lhe, apaixonou-se por ela. A coisa chegou mesmo ao ponto de lhe propor matrimónio.
Maria é uma moça muito bela, com muitos e bons predicados que tocaram o coração de Javier. Apresenta uma figura esbelta nos seus 30 anos, ostenta sorriso fácil e bonito, transpira simpatia por todos os poros, exibe assertividade no trato, alardeia dinamismo e rapidez nas respostas aos pedidos e problemas que os peregrinos lhe apresentam[2] E, era solteira.
Ele não resistiu a tanto charme e durante alguns dias terá adotado todos os estratagemas de sedução padronizados (nós assistimos à chegada das flores). Malogradamente, para Javier, nenhum surtiu o efeito que ele desesperadamente desejava. Maria tinha outros planos.
Conformado com a sua condição de apaixonado não correspondido, Javier acabou a sair do albergue no mesmo dia que nós. No livro de visitas pudemos ler o que ele lá escreveu à sua amada Maria. A frase mais tocante e emblemática era esta:
“Maria, si tu quisieras te llevaría en mi mochila”.
[1] A
propósito, continuamos a confirmar junto dos hospitaleiros que os peregrinos mais difíceis são os
espanhóis; os portugueses são, na sua maioria, muito simpáticos, afáveis,
comunicativos.
[2] Que o
diga Inserme a quem Maria foi lesta a disponibilizar um prato de arroz para
sugar a humidade que inutilizara o seu telemóvel.
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